São Paulo, sexta-feira, 21 de junho de 1996
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Exame revela chacina de funcionários de fazenda

Sem-terra teriam espancado uma das vítimas até a morte

IRINEU MACHADO
DA AGÊNCIA FOLHA, EM SÃO LUÍS

A exumação dos corpos dos três funcionários da fazenda Cikel realizada ontem por peritos da Polícia Civil do Maranhão concluiu que um dos funcionários foi massacrado por pancadas, sem ter levado nenhum tiro, o outro foi morto com sete tiros na cabeça.
Quatro pessoas morreram no último dia 11 em conflito com trabalhadores sem terra, em Buriticupu (distrito de Santa Luzia, a 400 km de São Luís).
O delegado regional da Polícia Civil de Santa Inês, Rubens Sérgio dos Santos, que preside o inquérito, acompanhou a exumação. "Observa-se claramente que houve execução. Uma das vítimas foi morta com agressões físicas, com instrumentos que ainda não sabemos qual foram, e houve tiros a curta distância", disse.
Emboscada
"Acho que realmente houve uma emboscada contra os funcionários da fazenda. Com o que já ouvi de algumas testemunhas e com os resultados desses exames, isso se torna bem provável", afirmou o delegado.
Segundo a superintendente regional de Polícia Civil do Noroeste do Estado, Marília de Carvalho Portela Luz, designada para acompanhar os exames, os médicos legistas constataram que um dos funcionários foi morto por "traumatismo craniano e diversas lesões" e não recebeu tiros. "Ele foi massacrado", afirmou.
Os outros dois corpos foram mortos por projéteis "provavelmente de chumbo", segundo a superintendente. "Foram encontrados dois projéteis no tórax de um deles e sete no crânio do outro."
O laudo do Instituto Médico Legal só deve ser divulgado na próxima semana. A equipe de peritos confirmou que os três corpos foram queimados.
O relatório da Polícia Federal, que responsabiliza líderes do MST pela invasão da fazenda e pelas mortes, foi anexado ao inquérito da Polícia Civil.
O quarto corpo, de um suposto sem-terra, foi exumado no último dia 15. Segundo o legista Aminabias Esmero, foi encontrado no corpo um projétil de chumbo de arma de caça na região do tórax. "Houve também uma fratura na costela, mas a avaliação não pôde ser perfeita porque o corpo estava em adiantado estado de putrefação e devorado por urubus."
MST
A Agência Folha tentou localizar por telefone representantes do MST ontem às 19h35. No escritório do movimento em São Luís, um homem que disse estar "tomando conta da casa" e se identificou por Válber, disse que os diretores haviam saído e só retornariam por volta de 21h30. Ele não sabia para onde eles haviam ido. No escritório do MST em Imperatriz, ninguém atendeu o telefone.
Pela versão da entidade, os funcionários da fazenda teriam sido mortos depois de terem atirado contra um grupo de sem-terra que estava estava abrindo uma roça. Segundo o MST, eles teriam revidado depois que um invasor teria sido morto. A PF acredita que este suposto trabalhador rural seja um madeireiro.

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