São Paulo, sábado, 22 de junho de 1996
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Fracassa greve geral contra desemprego

DA REDAÇÃO

Fracassou a greve geral promovida pela CUT, CGT e Força Sindical contra o desemprego e a política econômica.
A adesão ao movimento atingiu, em média, 20% em São Paulo. Nos demais Estados, o grau de paralisação variou significativamente.
O Palácio do Planalto considerou que a baixa adesão à greve é um sinal de aprovação ao governo.
Em Brasília, o presidente Fernando Henrique Cardoso afirmou que "greve não aumenta salário" e "perturba os que estão querendo aumentar o salário".
Houve violência em vários Estados.
Cerca de 280 ônibus foram depredados nas capitais (São Paulo, Rio, Porto Alegre, entre outras), sindicalistas fizeram piquetes e a polícia interveio com prisões e policiamento ostensivo em portas de garagens de ônibus e nas ruas.
Tiro
O metalúrgico José Roberto dos Santos, 32, da Ford, foi baleado no pé quando tentava entrar na montadora, em São Bernardo do Campo, na Grande São Paulo.
O tiro, segundo a Polícia Militar, teria partido de um carro que passava pelo local no momento.
A Polícia Civil informou que 13 pessoas foram detidas e cinco foram presas em flagrante no Estado de São Paulo por causa de depredações e piquetes durante a greve geral de ontem.
A PM prendeu quatro pessoas em Diadema que portavam estilingues, bolinhas de gude e "miguelitos" (artefatos com pregos grandes, usados para furar pneus).
Em Brasília e em outros Estados, membros do MST (Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra) bloquearam estradas.
Parcialidade
As centrais sindicais reconheceram a parcialidade da greve. Em entrevista à tarde, anunciaram que 12 milhões de pessoas aderiram.
O número corresponde a 19% do total da PEA (População Economicamente Ativa) do país.
"Não tínhamos a pretensão de parar 100% do país. Mesmo porque, se tivéssemos essa condição, tiraríamos FHC do poder", disse Vicente Paulo da Silva, o Vicentinho, presidente da CUT.
Indústria paulista
A Fiesp (Federação das Indústrias do Estado de São Paulo) também estimou em cerca de 20% a adesão dos operários das fábricas paulistas à greve geral.
Carlos Eduardo Moreira Ferreira, presidente da entidade, atribuiu as faltas a problemas com transporte.
O setor mais afetado foi o das montadoras do ABC paulista.
Segundo a CUT, a greve envolveu cerca de 80% dos trabalhadores na região. A Folha percorreu quase 120 km no ABC e registrou forte paralisação nas indústrias metalúrgicas e químicas.
Em resumo, a greve atingiu mais fortemente áreas onde o movimento sindical é mais organizado.
Entre 15% e 20% foi também o percentual de queda nas vendas no comércio apurado pela Federação do Comércio do Estado de São Paulo. O presidente da entidade, Abram Szajman, não divulgou um balanço das faltas.
A principal manifestação política em favor da greve geral em todo o país reuniu, no máximo, 600 pessoas ontem na praça da Matriz, em São Bernardo do Campo. Uma carreata pelas ruas da região foi suspensa.
O ato, marcado para as 10h, chegou a ser cancelado por Vicentinho.
Clima de sábado
Por conta da greve, a sexta-feira ganhou cara de sábado. Os congestionamentos caíram abruptamente em São Paulo e os calçadões e shoppings encheram no Rio.
O clima foi semelhante em várias capitais do país.
No Rio, o comando de greve apresentou números que indicavam uma adesão de cerca de 36% dos trabalhadores do Estado.
Mas a projeção dos sindicalistas era de que esse número atingisse 60% dos trabalhadores -2,1 milhões dos 3,5 milhões de empregados no setor formal da economia.
"A greve no Rio e no país foi um sucesso", disse a presidente da CUT-RJ, Iná Meirelles. "A greve foi frustrada", rebateu o governador tucano Marcello Alencar.
Portas fechadas
Pela manhã, com medo de depredações, lojas em São Paulo e outras capitais não abriram suas portas.
No decorrer do dia, a situação foi normalizada. Mas na região do ABC sindicalistas obrigaram comerciantes a fechar as portas.
Funcionalismo
O Ministério da Administração informou que, dos 50 mil servidores do Poder Executivo em Brasília, entre 2% e 3% faltaram durante a manhã sem relacionar a ausência à greve dos rodoviários.
A maior adesão à greve geral em Brasília foi dos motoristas e cobradores de ônibus.
Segundo a CUT, 95% da frota de 1.800 ônibus da cidade não circulou de manhã. O sindicato das empresas de transporte urbano informou que 250 ônibus (14% da frota) transportaram passageiros.
Exterior
Em Washington, Nova York e outras cidades americanas, ocorreram manifestações a favor da greve em frente a representações diplomáticas do Brasil.

LEIA MAIS sobre a greve geral das págs. 1-8 a 1-13

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