São Paulo, sábado, 22 de junho de 1996
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Livro dá a receita da rápida expansão dos tigres asiáticos

OSCAR PILAGALLO
EDITOR DE DINHEIRO

A recusa dos governos asiáticos em oferecer redes de proteção social estaria por trás da rápida expansão econômica dos tigres da região.
Essa é uma das conclusões do livro "Asia Rising", de Jim Rohwer, best seller mundial que está sendo considerado um dos melhores guias para entender o processo asiático de desenvolvimento.
O argumento é que, num mundo marcado por avanços tecnológicos, sociedades organizadas no molde asiático estariam mais bem equipadas para absorver as rápidas transformações.
Nos países ocidentais, ao contrário, há resistência às mudanças, estimulada em parte pela acomodação decorrente dos sistemas de bem-estar social.
Além disso, o gasto na manutenção desses sistemas contribui para deteriorar as contas públicas, e assim acabaria prejudicando quem se quis ajudar. Se essa despesa fosse evitada, a economia seria canalizada para a poupança interna, um dos motores da expansão.
Nessa linha, Rowher inverte o tradicional axioma e sustenta que a doutrina de proteção social é, no fundo, conservadora. "Trata-se de proteger as pessoas dos efeitos destrutivos da mudança, o que na prática significa protegê-las da mudança, ponto final, uma vez que os aspectos destrutivos e criativos vêm no mesmo pacote."
A comparação feita no livro entre o desempenho asiático e o da América Latina no último quarto de século é eloquente. Enquanto a participação dos asiáticos nas exportações mundiais registrou expansão de 75%, os latinos praticamente não saíram do lugar.
A experiência asiática se deu num ambiente de falta de tradição democrática, o que facilitou o processo, diz Rohwer.
Para ele, o problema da democracia representativa é que ela corre o risco de deixar de ser o veículo por meio do qual o cidadão obtém os serviços que deseja do governo para se tornar um instrumento que ajuda os fortes grupos de pressão a pôr a mão no bolso dos contribuintes.
A política asiática de deixar tudo por conta do mercado teve no sistema educacional a exceção. Mesmo assim, diz Rohwer, "ao contrário da crença popular, os países asiáticos não gastam grandes parcelas do PIB em educação".
A diferença, aponta o autor, é que a Ásia concentra todos os esforços na educação primária, e não na universitária, como na América Latina. Essa opção, combinada com um rígido sistema de meritocracia, garante maior porcentagem de pobres asiáticos em universidades públicas.
A comparação com o Brasil é ainda mais desfavorável. O livro critica a prática de um pensamento "neomercantilista", vigente no Brasil nos anos 80, segundo o qual países pobres precisam desenvolver suas indústrias por meio de políticas protecionistas.
Rohwer cita a Lei de Informática como o melhor exemplo do que não deve ser feito. O Brasil não só falhou ao tentar criar uma indústria de computadores, como prejudicou outros setores que perderam competitividade externa por não terem tido acesso a equipamentos eletrônicos modernos.

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