São Paulo, sábado, 22 de junho de 1996
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Revelação norte-americana virá à Bienal

KATIA CANTON
ESPECIAL PARA A FOLHA

O jovem artista conceitual Tom Friedman, 30, que virá ao Brasil em outubro para participar da 23ª Bienal dentro da mostra Universalis, é a grande estrela da nova geração norte-americana.
Tão pequeno e franzino quanto suas poderosas microesculturas, Friedman diz que está feliz em participar de sua primeira Bienal no Brasil.
"Sei que há ótimos artistas brasileiros; gostaria de conhecê-los", afirmou à Folha, sem qualquer estrelismo, numa conversa na abertura de sua exposição no Art Institute of Chicago.
A revista "Art in America" de maio traz artigo de destaque sobre a obra de Friedman, escrita pelo crítico Ken Johnson.
Johnson atribui a Friedman a aparente modéstia de um mercado das pulgas e uma profundidade embutida que retém a mais aguçada crítica social.
Essa orquestração se traduz em obras originalíssimas. Exemplos: uma delicada escultura feita de cascas de lápis apontado (1992); outra, realizada apenas com 30 mil palitos de dente.
Ou um retrato figurativo esculpido num comprimido de aspirina (93-95); ainda uma escultura "desenhada" com pêlos pubianos fixados sobre uma barra de sabonete gasto; ou finalmente "Tudo" (93-95), uma coleção de palavras, escritas umas sobre as outras, retiradas, durante três anos, de uma enciclopédia.
O segredo de Friedman está na combinação de um processo, que envolve a matéria-prima banal e a microdimensão, e um resultado grandioso e profundo nas associações. É o pop tornado sutil, espiritual até.
"Afinidades"
A mostra "Afinidades", em cartaz no Art Institute of Chicago até 28 de julho, não é apenas uma exposição original, com curadoria de Madaleine Grynsztejn.
Na idéia de contrapor esteticamente os retratos do pop consagrado Chuck Close, 56, com as miniesculturas de Tom Friedman, a mostra testemunha um caminho percorrido pela arte contemporânea americana dos 60 até hoje.
O que une Close a Friedman, de acordo com a curadora, é uma postura meticulosa, paciente, artesanal e, por que não, obsessiva de lidar com a construção do objeto artístico.
Nos retratos de Chuck Close, a imagem nasce da combinação de minúsculos pontos, traços ou linhas.
Já Tom Friedman parte dos objetos mais mundanos -um palito de dente, um pêlo do corpo, uma aspirina- e com eles constrói um universo à parte.

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