São Paulo, sábado, 22 de junho de 1996
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"Spin doctors"

FERNANDO RODRIGUES

Brasília - O governo FHC tem dificuldades para fazer sua comunicação institucional. Isso todos sabem e falam. Aliás, está cada vez mais chato ouvir que a causa do que dá errado é a comunicação ruim do governo.
Apesar dessa deficiência, os tucanos se dão muito bem na área da comunicação subliminar. Conseguem, como nunca, desviar a atenção do assunto principal.
Há dois casos exemplares dessa manobra diversionista: a reforma agrária e a greve geral de ontem.
Vamos começar pelo mais quente. Como a greve de ontem não foi geral, governistas apressavam-se em difundir uma imagem de derrota dos sindicalistas e de suas propostas. Esses governistas são o que os norte-americanos chamam de "spin doctors", os especialistas em espalhar pela mídia a versão que lhes interessa.
Quando esta coluna foi escrita, não havia ainda um balanço final da greve. Mas ficou evidente que foi o assunto do dia no país inteiro. Quase não se falou de outra coisa.
Ou seja, a greve -que ficou longe de ser geral- conseguiu, pelo menos, mobilizar milhões de pessoas. Foi um fracasso? O leitor responde.
Outra manobra dos "spin doctors" governistas, essa mais elaborada, refere-se aos sem-terra. Depois das quatro mortes em Buriticupu, no Maranhão, o governo passou a espalhar que o MST (Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra) não tem controle sobre suas bases.
Para ficar num placar recente de morbidez, os sem-terra podem ter matado quatro em Buriticupu. Já a polícia do Pará parece ser responsável por 19 mortes naquele Estado.
Não consta, entretanto, que o Estado do Pará, sob comando do tucano Almir Gabriel, esteja fora de controle e passível de intervenção, até com ajuda das Forças Armadas.
Como se vê, FHC está muito melhor do que se imagina em comunicação. Resta saber quanto tempo duram as versões dos "spin doctors".

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