São Paulo, terça-feira, 25 de junho de 1996
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Do plano ao fogo de Heliópolis

NABIL BONDUKI

Heliópolis foi objeto de várias intervenções durante a administração Erundina, num dos melhores exemplos de como é possível enfrentar o problema das favelas numa megametrópole como São Paulo. Ali surgiu um dos primeiros projetos de verticalização em favela (hoje apelidado de Cingapura), inaugurado em 1992 por Erundina. A superficialidade e a demagogia com que tem sido tratado o caso de Heliópolis, após o lamentável incêndio da semana passada, é exemplar da despreocupação em enfrentar a questão social.
Durante nossa gestão na Superintendência de Habitação Popular, foi elaborado um plano diretor local para organizar a intervenção em Heliópolis, cujo objetivo era transformar a favela num bairro urbanizado, dentro da capacidade de investimento da prefeitura.
Foram contratadas a construção de blocos verticalizados, para desadensar a favela e eliminar áreas de risco, e a urbanização da favela. Esse plano, elaborado num amplo processo de participação comunitária, equacionaria definitivamente o problema de Heliópolis, eliminando áreas de risco ou ociosas, sujeitas a novas invasões, e combinando-se com iniciativas da Cohab para finalizar os edifícios de renda média, irresponsavelmente iniciados e paralisados por Jânio.
Com Erundina, foi iniciado esse plano, construindo-se blocos para desadensamento, urbanizando parte da favela, com infra-estrutura completa e edificando-se casas em mutirão. Quatro edifícios de renda média da Cohab, em estágio mais adiantado, foram concluídos, ficando os demais, assim como outros blocos para desadensamento da favela, já projetados, para serem concluídos por Maluf, que teria tudo para finalizar essa obra social.
Na gestão Maluf, a invasão desses prédios, que pegaram fogo, é consequência da paralisação da implantação desse plano e da ausência da participação dos moradores, essencial para proteger áreas públicas. Não diria que o prefeito é o responsável pelo incêndio, mas o fato de ter paralisado o plano de Erundina contribuiu para isso. A verticalização custa cerca de dez vezes mais, por família, que a urbanização. Por isso, deve ser implementada de modo muito criterioso. Ao invés da demagogia, deveria se mostrar como, no plano de Heliópolis, a verticalização (Cingapura) se combina com a urbanização, a um baixo custo. Só assim se resolvem problemas como Heliópolis, com 10 mil famílias. Em toda a cidade, Maluf só inaugurou até agora 2.800 unidades de "Cingapura"...

Nabil Georges Bonduki, 40, arquiteto, é professor de urbanismo da Escola de Engenharia de São Carlos da USP. Foi superintendente de Habitação Popular da Prefeitura de São Paulo (gestão Erundina).

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