São Paulo, quarta-feira, 26 de junho de 1996
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Garimpeiros fazem novo refém no Pará

ESTANISLAU MARIA
DA AGÊNCIA FOLHA, EM SERRA PELADA

Cerca de 300 garimpeiros tomaram como refém às 17h30 de ontem o engenheiro agrônomo Oséias Lopes Matos, funcionário da Companhia Vale do Rio Doce.
Matos realizava trabalhos de topografia na área do projeto Serra Leste, em Curionópolis (635 km ao sul de Belém-PA). Até as 18h, os garimpeiros não haviam divulgado os motivos da detenção. A Vale acionou a Polícia Federal para que negociasse com os garimpeiros.
A tensão na área vem aumentando desde a última sexta, quando a Vale retomou os trabalhos de uma das 13 sondas interditadas no dia 3 de maio pelos garimpeiros.
No sábado, os garimpeiros fizeram dois funcionários reféns e exigiram o desligamento dessa sonda. Eles só foram liberados quatro horas depois, quando a Vale aceitou desligar a sonda.
Anteontem, os garimpeiros interditaram os três acessos a Serra Pelada. Ontem, a Vale desimpediu um dos acessos, mas, no final da tarde, os garimpeiros fecharam novamente a estrada e sequestraram o funcionário.
Os garimpeiros exigem o direito de posse da área e exploração do garimpo de Serra Pelada, onde estão há 16 anos. A Vale diz que um decreto presidencial de 1974 garante à companhia o direito de exploração do subsolo.
Os garimpeiros dizem que esse direito é deles e não querem o pessoal da Vale trabalhando na área.
Ameaças
Os garimpeiros que estão aderindo ao programa de remanejamento da Vale vêm sofrendo ameaças dos garimpeiros contrários à proposta. Edmílson Alves da Silva disse que foi ameaçado anteontem pelo garimpeiro identificado como "Baiano do Chapéu Preto".
Silva, depois de vender sua casa para a Vale, voltou a Serra Pelada com um caminhão para buscar sua família e seus móveis e pertences.
Segundo Silva, Baiano, que estava armado, quis impedir a mudança. Silva teve que sair rapidamente de Serra Pelada.
Outros garimpeiros, que pediram para não ser identificados, também disseram sofrer ameaças. Líderes dos garimpeiros negam que haja pressão.
A Vale quer retirar de Serra Pelada as 1.600 famílias que vivem no local. A empresa oferece R$ 6.000 em média pelas casas ou uma outra de dois quartos, sala e cozinha, em Curionópolis. Segundo a Vale, cerca de 540 famílias estão cadastradas no programa, 15 se mudaram e 6 casas já foram derrubadas.

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