São Paulo, quarta-feira, 26 de junho de 1996
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"Trem" de Stan Douglas procura novos olhares

CELSO FIORAVANTE
DA REDAÇÃO

O artista plástico canadense Stan Douglas, 35, apresenta, a partir de hoje, no Museu da Imagem e do Som (MIS), sua instalação em multimídia "Overture". O evento faz parte do projeto "Antarctica Artes com a Folha", que vai revelar artistas plásticos brasileiros.
Douglas nasceu em Vancouver. Dedica-se à criação de vídeos, filmes e instalações multimídia. Já expôs suas obras em museus como o Beaubourg (Paris), MoMA e Whitney (ambos em NY); na Bienal de Veneza e na Documenta de Kassel; e nas mais importantes galerias americanas e européias.
"Overture" é a primeira instalação do artista. Tem dez anos de idade e, segundo ele, é uma boa escolha para sua estréia no Brasil. "'Overture' realmente representa uma 'abertura' para o meu trabalho, pois possui vários pontos que vão pontilhar minha carreira", disse.
"Overture" é composta por trechos dos filmes "Panoramic View of White Pass Railroad" (1899) e "Panoramic View of Kicking Horse Canyon" (1901), produzidos pela Companhia Edison, que mostram uma viagem de trem nas Montanhas Rochosas canadenses.
As imagens transmitem um vertiginoso movimento, conseguido por câmeras presas à locomotivas. São acompanhadas por uma narração, em inglês, de trechos de "Em Busca do Tempo Perdido", de Proust.
As imagens trabalham com questões históricas, como a imigração e colonialismo europeu na América do Norte; questões técnicas e estéticas, como a substituição do olhar humano pelo olhar da máquina-câmera; e questões sexuais, como o engolir e cuspir das imagens pelos túneis. O movimento transmite uma sensação claustrofóbica e embriagante de forte apelo erótico.
"'Overture' estabelece um tipo de sedução na medida em que a repetição se apresenta, mas não se mostra. Você nunca sabe se a cena que está vendo é a mesma cena que você viu anteriormente", disse.
Segundo o artista, a recepção de sua instalação tem variado de país para país. No Canadá, as pessoas se identificam com as locações porque os filmes usados foram rodados nas Montanhas Rochosas, "uma região mítica, com os trens correndo para unificar o país".
Na França, a identificação foi com a parte literária da instalação. "Foram os únicos que reconheceram o texto de Marcel Proust apenas ouvindo-o", disse.
O mesmo tipo de looping com que Douglas trabalha em "Overture" retorna em "Subject to a Film: Marnie", que utiliza cena de "Marnie - Confissões de uma Ladra". Mas se o filme de Alfred Hitchcock trabalha com o suspense, Douglas opta pela "suspensão" do tempo. "A 'suspensão' é a idéia de 'Marnie'. Mas algo que também pode terminar ou romper-se a qualquer instante... Na instalação, não se sabe se o filme termina ou começa. Ele volta e volta e volta, como em uma longa cena contínua", disse.

Mais informações sobre o projeto "Antarctica Artes com a Folha" pela caixa postal 2403, CEP 01060-970, São Paulo.

Instalação: Overture Autor: Stan Douglas
Onde: MIS (av. Europa, 158, tel. 011/280-0896)
Vernissage: hoje, às 20h Quando: de terça a domingo (14h às 22h)
Palestra: Trabalhos de Stan Douglas
Onde: Faap (r. Alagoas, 903)
Quando: amanhã, às 20h
Entrada: grátis (ambos)

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