São Paulo, quarta-feira, 26 de junho de 1996 |
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Dálmatas cansam os desenhistas
JORGE BECHARA
Curiosamente, as características da raça foram a principal razão das inovações técnicas que o estúdio foi obrigado a desenvolver para que o projeto se concretizasse. Cuidados com a raça Por serem cães de pelo liso e curto, com estrutura e movimentação totalmente aparentes, os dálmatas foram exaustivamente estudados durante os três anos de produção do filme, de 1958 a 1960, exigindo grande empenho e habilidade das dezenas de técnicos e artistas para que o resultado atingisse o padrão de qualidade Disney. Os recursos criados pelos profissionais envolvidos foram revolucionários para a indústria cinematográfica, sendo utilizado pela primeira vez no cinema o processo xerox, para passar o desenho do papel para o celulóide. Sem isso seria praticamente inviável reproduzir os milhões de pintas e dar veracidade aos precisos movimentos. O primeiro desenho animado longa-metragem com cenários e personagens reais e contemporâneos, e não de uma lenda ou história fantástica, foi também inovador ao ter o fundo das cenas igualmente desenhadas com pena e tinta, como os personagens. O virtuosismo alcançado pela indústria de animação nessa obra chega ao requinte de uma auto-homenagem através da obsessão com que foram manipuladas as pintas, como quando a tinta de uma caneta salpica de pintas um dálmata e seu dono, quando se contrastam as pintas pretas com flocos de neve, ou quando pintam os cãezinhos de preto com fuligem de carvão e em seguida lhes colocam pintas brancas com pingos d'água. Didatismo cinofílico A fidelidade à realidade atinge o puro didatismo em momentos como o que trata a raça como prolífica -15 filhotes em uma ninhada- e ao explicar que as pintas não nascem com os cães -surgem após dias-, além de retratar as características culturais da época: os personagens têm o hábito de ler, são pintores ou músicos, com a trilha sonora incluindo canções de jazz e blues. Mas mesmo num argumento contemporâneo e realista, a magia Disney está presente. O filme tem sutilezas como o relâmpago da tempestade quando um filhote ressuscita e a debandada de pombos brancos quando surge a vilã. O ponto alto do enredo, porém, está na famosa sequência que mostra a semelhança física e de comportamento entre os cães e seus donos, e na criação de uma vilã impressionantemente atual: Cruella Deville (Malvina Cruela, na tradução brasileira). A vilã é uma aristocrata decadente com uma anoréxica silhueta, os cabelos tingidos e o rosto deformado por uma cirurgia plástica, além de ter os hábitos mais incorretos possíveis para o nosso tempo, como fumar inveteradamente e usar casacos de pele -o mote do filme, já que é a sua intenção confeccionar um casaco com as pintas e a pele macia dos dálmatas. Filme: 101 Dálmatas Distribuição: Abril Vídeo (tel. 011/837-4542) Diretores: Wolfgang Reitherman, Hamilton S. Luske e Clyde Geronimi Diretores de animação: Eric Larson, Ollie Johnston, John Lounsbery, Marc Davis, Milt Kahl e Frank Thomas Diretor de arte: Ken Anderson Diretor musical: George Bruns Vozes: os atores Rod Taylor (Pongo), Cate Bauer (Perdita), Betty Lou Gerson (Cruella), Ben Wright (Roger Radcliff) e Lisa Davis (Anita Radcliff) Texto Anterior: Daniel Senise reflete sobre os contrastes Próximo Texto: Desenho brinca com britânicos Índice |
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