São Paulo, quinta-feira, 27 de junho de 1996
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Desmistificando o México

LUÍS NASSIF

Intelectual militante, o ex-ministro Marcílio Marques Moreira reuniu uma soma de informações relevantes sobre as finanças mundiais e, em especial, sobre a crise do México, em dezembro de 94.
Análises produzidas pelo Departamento de Economia da Universidade de Chicago demonstram ser quase impossível prever crises cambiais em países. E mostram que, para quebrar, o México produziu uma sequência inédita de erros de política econômica -todos no período Salinas.
Os estudos anotaram o seguinte:
1) Antes da quebra, o México apresentava de maneira crescente déficits comerciais e em conta corrente. De 1990 a 1993, entraram US$ 91 bilhões no México, quase 20% do fluxo para países emergentes.
2) No mesmo período, caíram as taxas de investimento e poupança, denunciando que o dinheiro limitou-se a financiar consumo, em substituição à poupança interna.
3) Em fevereiro de 1994, houve grande aumento nas taxas de juros dos Estados Unidos. A consequência foi um refluxo de capital para os EUA, especialmente devido à instabilidade política no México, com o assassinato de candidatos à Presidência da República.
4) Para retirar o dinheiro do país, o investidor resgata suas aplicações em peso e recompra os dólares para remessa.
Se o governo não emite moeda, há uma elevação nos preços do dólar, que acaba inibindo a fuga. No entanto, o governo mexicano achou que a fuga era provisória e decidiu expandir a base monetária em US$ 30 bilhões -financiando a fuga de dólares subrepticiamente, através de bancos oficiais e provinciais.
5) Na hora de enxugar o dinheiro em circulação, houve dificuldade cada vez maior de colocar títulos, o que fez o prazo de rolagem da dívida pública ser encurtado.
6) Em dezembro de 94, quando houve a crise propriamente dita, a saída de capitais foi pequena. A fuga havia ocorrido em setembro, o que acaba jogando nas costas do ex-presidente Salinas a responsabilidade maior pelo desastre.
No mesmo período, a Argentina contraiu a base monetária, impedindo a fuga de dólares. E aumentou a taxa de poupança e investimento, pela redução de 15% nos salários dos funcionários públicos e pela instituição de um imposto de 15% sobre o consumo.
Mitos
Os estudos mudaram a maneira de enfocar a crise mexicana. Conclusões principais:
* Fundos mútuos abertos e fechados tiveram, paradoxalmente, o mesmo comportamento; o que se julgava é que os fundos abertos fossem mais voláteis.
* Depois do "crack" mexicano, os fundos abertos venderam papéis -inclusive do Chile e do Brasil- esperando resgate em massa, mas isso não ocorreu.
* Hoje em dia, os bancos são protagonistas menores nos investimentos latino-americanos; respondem por menos de 20% dos ativos.
* Na década de 70, os bancos foram os grandes protagonistas do mercado financeiro internacional, em virtude da reciclagem dos petrodólares.
* Nos anos 80, com a crise das dívidas externas e a securitização dos recebíveis, perderam a liderança para os fundos de investimento e bancos de negócios.

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