São Paulo, quinta-feira, 27 de junho de 1996
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Marlon Brando mostra o reverso de Vito Corleone

INÁCIO ARAUJO
DA REDAÇÃO

A história de "Um Novato na Máfia" (SBT, 13h30) é curiosa: um estudante de cinema vai estudar em Nova York. Precisando de dinheiro, começa a fazer um servicinho aqui, outro ali, e quando vê está enredado com a Máfia.
Resulta no que o filme é: uma comédia simpática, com alguns lances bizarros, sem enorme alcance, mas com dignidade.
O que o diferencia é apenas um detalhe. Ver, em dado momento, Marlon Brando aparecer (por exemplo, sozinho em uma mesa de bar). E Marlon Brando, quando aparece, a Terra treme. Não é por nada que alguém ganha quantias astronômicas para fazer só uma ponta.
Ora, o que Marlon Brando faz neste filme é muito especial. Ele retoma seu don Corleone, o de "O Poderoso Chefão". Foi um papel procurado (ele fez testes para ganhá-lo). Foi um papel que lhe deu o Oscar.
Aqui, no entanto, Brando parece não ter a tensão de fazer um grande papel. Brinca de ser Vito Corleone.
Disso resulta a transformação de um personagem épico-romântico em um de comédia. Desmonta as expectativas não apenas em relação a "Um Novato na Máfia", mas, de certo modo, em relação a nossa maneira de ver cinema.
O ator parece nos dizer que nada, nem um personagem que está na história de sua arte, é tão importante que não possa mostrar seu reverso. No caso, a desimportância, a comédia.
O caso é que, com Marlon Brando, mesmo no menor dos papéis, o cinema ainda tem essa virtude de ser surpreendente. O velho Marlon ainda é uma expressão de juventude, deboche e vigor.
(IA)

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