São Paulo, sexta-feira, 28 de junho de 1996
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Legista da Unicamp pedirá exumação dos dois corpos

Ministro da Justiça duvida da hipótese de crime passional

DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

O médico-legista da Unicamp Fortunato Badan Palhares, 52, vai pedir a exumação dos corpos de Paulo César Farias e da namorada do empresário, Suzana Marcolino.
Segundo a Folha apurou, Palhares fará o pedido logo que chegar a Maceió. Ele foi contratado pelo Ministério da Justiça para refazer os laudos periciais e cadavéricos.
Palhares é coordenador do setor de perícia do Departamento de Medicina Legal da Unicamp.
Em 95, prestou serviços ao ministério, quando caracterizou como tortura a morte de um preso nas dependências da PF do Ceará.
O pedido de exumação terá de ser feito à Justiça pelo delegado que preside o inquérito sobre o assassinato de PC e sua namorada.
Arrombamento
O diretor da Polícia Federal, Vicente Chelotti, disse que não encontrou vestígios de arrombamento na janela do quarto onde estavam mortos PC e Suzana.
Com base nessa constatação, Chelotti pediu a Palhares que reconstitua o arrombamento alegado pelos seguranças de PC, usando para isso a janela vizinha.
"Há apenas a trilha de uso na madeira que serve de sustentação para o gancho que fecha a janela por dentro", disse Chelotti.
Ele examinou a janela na última terça-feira, quando esteve em Maceió para acompanhar as investigações da polícia de Alagoas.
O diretor afirmou que a madeira da janela deveria ter rachaduras, uma vez que os seguranças declararam ter recorrido a um cortador de grama para arrombá-la.
Peritos ligados à ABC (Associação Brasileira de Criminalística) disseram à Folha que um arrombamento sem vestígios significa que a janela foi aberta.
Corpos enrijecidos
Durante sua visita a Maceió, Chelotti disse ter ouvido dos médicos legistas de Alagoas a informação de que os corpos do casal não estavam enrijecidos.
Isso indicaria a possibilidade de que eles não tenham morrido tensos, o que reforçaria a tese de crime passional ou de duplo homicídio sob efeito de drogas.
"Se aconteceu o suicídio, ela talvez não estivesse tensa. Ela estaria tensa no caso de ter sido morta por outra pessoa", analisou Chelotti.
O médico Gerson Odilon, um dos três legistas responsáveis pela autópsia do casal, disse que essa informação sobre o enrijecimento dos corpos é errada e desconhece quem a repassou ao diretor da PF.
Para eliminar essas dúvidas, o diretor da PF defendeu que será inevitável exumar os cadáveres para novo exame por conta da equipe dirigida por Badan Palhares.
Chelotti disse que a família não pode impedir a exumação dos corpos se for decidida pela Justiça de Alagoas. Ele disse ter estranhado a reação da família Farias contra a divulgação das fotos do casal morto pela imprensa.
Jobim
O ministro da Justiça, Nelson Jobim, demonstrou ontem duvidar da tese de crime passional para justificar as mortes do empresário Paulo César Farias e de sua namorada, Suzana Marcolino.
"Você já viu crime passional com um tiro só?", indagou o ministro a um grupo de jornalistas que conversava com ele no estacionamento do Anexo 2 da Câmara, pela manhã, após uma audiência pública.
Jobim disse, informalmente, que não acreditava que Suzana Marcolino da Silva, a namorada de PC, tivesse cometido homicídio. "Não se mata a entidade mantenedora", afirmou Jobim, rindo.
Oficialmente, o ministro se nega a fazer qualquer comentário sobre o crime.
"Não trabalho com hipóteses, trabalho com fatos. Hipóteses deixo para vocês (jornalistas) fazerem", afirmou o ministro.
Espingarda
Mais cedo, antes de participar da audiência pública que discutiu a criação do Conselho Nacional de Justiça, Jobim comentou as declarações do deputado Augusto Farias (PPB-AL).
Anteontem, o deputado teria ameaçado usar uma espingarda para evitar que o corpo do irmão, PC, fosse exumado pelos legistas da Universidade de Campinas.
"Exumação é uma decisão de um juiz. Se a polícia requerer a exumação fundamentada, e o juiz entender necessária, ela será feita, quer alguém queira ou não", disse o ministro Jobim.

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