São Paulo, sexta-feira, 28 de junho de 1996
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Brasilianista investiga Pombal

MARCELO REZENDE
DA REDAÇÃO

Uma extensa resenha no prestigiadíssimo "The New York Review of Books". Uma aclamação, espanto e grande surpresa.
Em apenas 166 páginas, o historiador e brasilianista Kenneth Maxwell desmontou algumas idéias clássicas -ao menos para o senso comum- sobre o Iluminismo da Europa do século 18, revisitou de forma brilhante a história política e econômica de Portugal e, por fim, recuperou para seus contemporâneos a figura de Sebastião José de Carvalho e Melo, o marquês de Pombal.
"Marquês de Pombal - Paradoxo do Iluminismo" é um ensaio biográfico sobre uma das figuras centrais do que Maxwell chama de "o outro da lado da filosofia das luzes". Uma região mais violenta, repleta de progressos, mortes e assassinatos em nome de um "absolutismo iluminado".
O livro será lançado no Brasil em agosto, pela editora Paz e Terra, e Kenneth Maxwell é um dos grandes convidados da próxima Bienal Internacional do Livro. Ele virá a São Paulo, onde debaterá no auditório da Folha. Maxwell falou por telefone, de seu escritório em Nova York, sobre seu trabalho.

Folha - A idéia central em seu livro é o que o sr. chama de "paradoxo do Iluminismo" em Pombal, um homem que usa, algumas vezes, do horror e da violência em nome de uma "engenharia social".
Kenneth Maxwell - A historiografia tradicional tem o Iluminismo como mentor da Revolução Francesa, do governo constitucional e democrático. Mas, se você lançar um olhar profundo para a história, verá que muitas de suas principais figuras faziam parte do Estado. E se você se debruçar sobre Pombal, tudo que ele fez foi motivado por razões de Estado. E você encontrará essa estranha e paradoxal mistura, a balança entre uma intenção reformista e as violentas ações do Estado. Esse é o meu paradoxo. Penso que esse é um importante elemento do Iluminismo, um elemento a que as pessoas nunca deram muita atenção.
Folha - Como o sr. chegou ao marquês de Pombal?
Maxwell - A escolha por Pombal se deu por duas razões principais: meu interesse pelo Iluminismo e pela cultura luso-brasileira e como essa tradição se liga à Reforma, como se distancia da tradicional imagem do que aconteceu na cultura anglo-americana. Quando eu era ainda um estudante, vivi por alguns anos no Rio de Janeiro e em Lisboa, desenvolvendo estudos sobre os dois países e, especialmente, sobre o século 18.
Folha - Pombal, em seu livro, emerge como uma "grande figura". O sr. poderia aproximá-lo de Voltaire, um dos exemplos máximos do Iluminismo?
Maxwell - Acho que a melhor aproximação não seria com os pensadores, mas antes com os monarcas de seu tempo, como Catarina, a Grande. Ele era muito mais um líder autocrático do Iluminismo. É dessa maneira que o vejo.
Folha - Mas ainda parte das idéias revolucionárias.
Maxwell - Certo, é uma das figuras centrais. Se você olhar para a "Europa periférica", para Espanha, Itália e Rússia, poderá entender melhor o que acontecia no Brasil e em Portugal, mais do que se espelhando na França. Meu livro é uma tentativa de resgatar esse lado do Iluminismo.
Folha - Pombal é lembrado no Brasil por ter sido o ideólogo da expulsão dos jesuítas.
Maxwell - Uma atitude motivada por razões filosóficas. Um dos grandes temas do Iluminismo do sul da Europa, na Itália, Espanha e Portugal, foi o de colocar a Igreja sob o controle do Estado, e Pombal fez parte dessa idéia, de um sentimento antipapal.
Folha -Pombal só pôde existir porque teve um rei fraco ao seu lado? Brasil e Portugal parecem sofrer, pensam alguns, da fraqueza de seus governantes.
Maxwell - Não penso assim. Houve uma espécie de reação contra esse tipo de homem, por parte de governantes. D. João 6º tomou todos os cuidados para que em seu reinado não surgisse um novo Marquês de Pombal. Eles não queriam um outro Pombal com idéias reformistas.

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