São Paulo, sexta-feira, 28 de junho de 1996
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Aumenta pressão dos EUA sobre a Colômbia

Constituição proíbe extradição de traficantes

DAS AGÊNCIAS INTERNACIONAIS

A negativa do governo da Colômbia em extraditar quatro traficantes de drogas iniciou uma confrontação entre as autoridades do país e dos Estados Unidos.
A secretária de Justiça dos EUA, Janet Reno, mandou na segunda-feira carta ao ministro da Justiça colombiano, Carlos Medellín.
Reno pediu a extradição dos irmãos Gilberto e Miguel Rodríguez Orejuela, chefes do cartel de Cali, e de dois outros membros da organização criminosa, Juan Carlos Ramírez Abadía e Helmer Herrera, para que sejam julgados nos Estados Unidos.
Apenas Herrera, considerado um dos líderes da nova geração do cartel, está foragido.
Medellín afirmou anteontem que não atenderá ao pedido, porque a Constituição colombiana proibiu em 1991 a extradição de cidadãos nascidos no país, mesmo que o tratado de extradição entre os dois países ainda esteja formalmente em vigor, como alega o governo norte-americano.
"Nossa posição é a de que o tratado que temos com a Colômbia continua vigente e permitiria a extradição", afirmou a secretária de Justiça dos Estados Unidos.
A proibição de extradições foi aprovada pelo Congresso depois do assassinato de centenas de pessoas em uma campanha de terror promovida por traficantes de drogas para pressionar o governo contra a prática.
Pretexto
Analistas políticos acreditam que os Estados Unidos podem usar o incidente como pretexto para adoção de sanções econômicas contra a Colômbia.
O senador Jaime Ramírez, do Partido Conservador (oposição), afirmou que o presidente Ernesto Samper está em situação difícil.
"Trata-se de uma cartada política muito hábil. Se o presidente disser que é a favor da extradição, o tráfico e outros setores virão em cima dele. Se disser que não, os EUA vão encontrar um pretexto para afirmar que a Colômbia não está lutando contra as drogas."
Desde março, quando os EUA retiraram da Colômbia o certificado de que o país colabora com o combate ao narcotráfico, o país vem sendo ameaçado de sanções.
Janet Reno não quis especular sobre qual será a reação do governo norte-americano caso a extradição seja mesmo negada.
"Trataremos deste assunto no momento oportuno", disse ela.
Reno, dando a entender que a pressão dos EUA não é contra o governo colombiano, mas para que os quatro traficantes sejam julgados, disse que o objetivo do governo norte-americano é "submeter à Justiça pessoas que acarretaram tantos males ao mundo".

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