São Paulo, sexta-feira, 28 de junho de 1996
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Viva a desgraça alheia

FERNANDO RODRIGUES

Brasília - A histeria com a morte de PC Farias tem sido uma bênção para FHC. É a primeira tragédia nacional ocorrida em seu governo que ninguém relaciona, nem poderia, à inoperância tucana.
"Mais um mês de PC e aprovamos um monte de coisas no Congresso", disse ontem um importante ministro do governo FHC. Eufóricos, os tucanos festejavam a aprovação, com relativa facilidade, de um novo sistema de votação na Câmara.
Anteontem, sem muito alarde na mídia, deputados governistas acabaram com o festival de DVS (Destaque para Votação em Separado) que emperrava a aprovação de qualquer assunto. Agora, a farra acabou e as oposições ficaram órfãs em plenário.
É claro que a declaração do ministro foi apenas um comentário bem-humorado. Mas, no fundo, ele sabe que tem razão. A estrondosa ênfase que o país confere à morte de PC Farias favorece o governo FHC.
A indigência intelectual que reina no Congresso é suscetível aos destaques da mídia. Parlamentares semi-analfabetos se sentem mais à vontade para aderir ao governo quando isso não aparece na TV ou no jornal.
Nesse sentido, a importância menor que determinados assuntos recebem facilitam a vida do governo. Temas polêmicos acabam circunscritos às paredes do Congresso. E os tucanos enxergam aí chances de vitória.
Por tudo isso, a decisão de colocar a Polícia Federal na investigação pode render bons dividendos a FHC.
Primeiro, porque o Brasil noveleiro terá assunto novo. Continuará hipnotizado à espera do assassino. Enquanto isso, reformas passarão no Congresso, longe dos holofotes habituais.
Segundo, porque a PF poderá encontrar o criminoso e até levar mais gente da era Collor para a cadeia. Sem incomodar, evidentemente, alguns financiadores de campanha que dão dinheiro para todos, como se sabe. Mas mesmo essa rapa parcial dará a FHC um patrimônio valioso: a glória por ter esclarecido um pouco o mais famoso caso de impunidade do país.

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