São Paulo, sexta-feira, 28 de junho de 1996
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Afinal, uma notícia boa

JOSÉ SARNEY

O abismo sempre perseguiu a história do nosso país. Carlos Lacerda, no último mandato de Vargas, considerou a questão nacional muito preta e não teve outro julgamento: "Roubaram até o abismo".
Ultimamente exacerbou-se a cultura do pessimismo. Os radicais pregando sempre a existência do caos. Os outros, participando da ladainha, julgando poder tirar dividendos dela, por medo da discordância ou por interesses menores. Basta ver que a primeira atitude de quem tem êxito não é louvar os seus próprios êxitos, mas creditá-los aos erros do passado.
Nesse clima, vem a boa nova: a Organização das Nações Unidas descobriu que o país melhorou! O estudo sobre o Desenvolvimento Humano no Brasil revela que, em 1991, com dados disponíveis do Censo daquele ano, alcançamos o índice de 0,797, nível intermediário de desenvolvimento, próximo aos níveis mínimos dos países ricos. Ultrapassamos a média mundial, que é de 0,759.
Revelou ainda o relatório que o nosso calcanhar-de-aquiles é o desnível regional, com esse Nordeste a criar problemas com gente mais pobre do que os pobres, o que faz com que os Estados ricos do Centro-Sul não estejam no banquete da Europa e Estados Unidos.
O pior é que, também nesse Brasil miserável, começa a surgir uma outra mentalidade perigosa: de que essa união é a causa de seus males. Nem tanto ao mar nem tanto à terra, como afirma o velho brocardo que nos veio dos portugueses.
O Nordeste avançou e lá também "reduziu-se a taxa de analfabetismo, aumentou o número de matrículas escolares e cresceu a escolaridade média". Caiu o índice de mortalidade infantil e a situação sanitária melhorou.
Essa é a boa nova: o Brasil não vai tão ruim quanto se pensa e ninguém pode amaldiçoar essa "década perdida" de 80/90, que revela profundos avanços na área social, sem falar que foi nessa década que a América Latina reencontrou-se com a democracia.
Recordo que de 85 a 90 o Brasil cresceu 5% ao ano e a renda "per capita" subiu em 13%. Os gastos nas áreas sociais aumentaram de 7% para 11%.
Continuamos com graves problemas; uns conjunturais, como desemprego, juros altos, crise da pequena e média empresas e da empresa nacional; e problemas estruturais como esse problema regional que é nacional, de um Brasil miserável que se despovoa em suas áreas rurais, gerando o inchaço das grandes cidades, com todos os males que vão do crime organizado ao mundo das drogas.
Mas com tudo isso, e para alívio nosso, a radiografia isenta dos números é de que o Brasil vai melhorando ao longo de sua sofrida história, que marcha sem grandes saltos, mas dentro dos padrões que Deus permitiu aos homens na face da Terra.
O "abismo" está sendo soterrado, e não acredito na catástrofe, embora o João, porteiro do Senado, todo dia quando eu entro me diga: "Senador Sarney, a coisa vai mal!"

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