São Paulo, sábado, 29 de junho de 1996
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Publicidade do Brasil fracassa em Cannes

NELSON DE SÁ
ENVIADO ESPECIAL A CANNES

Dois leões foi o saldo brasileiro no festival de publicidade de Cannes, encerrada a semana em que a produção do país enfrentou "o fantasma dos fantasmas", na expressão do publicitário Nizan Guanaes.
A imagem de país produtor de "fantasmas" -comerciais sem veiculação ou sobre produto fictício, feitos para concorrer em festivais- foi responsável pelo fraco desempenho.
No ano passado, quando um júri polêmico distribuiu poucos prêmios, o Brasil recebeu cinco leões. Um ano antes, oito.
Em 89, ano em que se registrou a maior premiação do país, encabeçada pelo publicitário Washington Olivetto, foram 17.
Premiados
O único leão de ouro brasileiro neste ano foi para o comercial "Formigas", da agência F/Nazca Saatchi & Saatchi, com direção de criação de Fábio Fernandes.
No filme, de 45 segundos, já veiculado pela televisão brasileira, formigas se divertem saltando pelo ar, impulsionadas pelo elevado volume de som de um aparelho da Philco.
O outro comercial, que levou um leão de bronze, foi "Dia dos namorados", da DPZ -com a imagem de lábios de mulher que, com um batom da Avon, se transformam num coração.
Resgate do respeito
O Grand Prix, prêmio máximo do festival de Cannes, vai para a Holanda, com o filme "Elefante", da agência Ammirati Puris Lintas.
No comercial holandês, uma criança oferece um chocolate Nestlé para um filhote de elefante, mas acaba tirando e come sozinho o doce. Anos depois, adulto, assiste a uma parada de circo e o elefante se vinga.
O jurado brasileiro em Cannes, o publicitário Fábio Siqueira, da MPM Lintas, disse que "diminuiu a receptividade" para os filmes do Brasil e que "a briga foi resgatar o respeito".
"Nós já saímos com leões a menos", disse Siqueira, que atribuiu o resultado ao menor número de inscrições (204, contra 321 no ano passado) e ao "clima em que a gente chegou".
Polêmica
O clima que ele menciona foi criado pelas denúncias feitas no Brasil por publicitários como Washington Olivetto, da W/Brasil, e Francesc Petit, da DPZ.
A agência de Olivetto não inscreveu peças no festival, em reação aos "fantasmas", segundo o publicitário.
Siqueira disse que "ele (Olivetto) deveria tomar mais cuidado com o que fala", devido à repercussão que alcança.
O representante do festival no Brasil, Luís Antônio Ribeiro Pinto, da Promocine, chegou a dizer que a "a W/antiBrasil revoltou a publicidade brasileira".
Mídia impressa
Na terça-feira, a primeira rodada do festival, "Press & Poster" -dedicada apenas aos anúncios veiculados em mídia impressa- deu 12 leões às agências de publicidade brasileiras.
A Almap/BBDO ficou com seis prêmios, a Comunicação Contemporânea recebeu dois e as agências Young & Rubicam, Norton, D+ e Talent conseguiram um leão cada.
Foram distribuídos na "Press & Poster" 38 leões de ouro, 46 de prata e 55 de bronze. A Inglaterra ficou com 43 leões e os Estados Unidos com 13.

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