São Paulo, domingo, 30 de junho de 1996
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Livro narra experiência a partir do fracasso

RICARDO BONALUME NETO
ESPECIAL PARA A FOLHA

"Esse é o livro que eu planejei nunca escrever". Assim se refere Robert McNamara a seu livro, publicado no ano passado, "Em Retrospecto -A Tragédia e as Lições do Vietnã".
"O livro tem esse aspecto de mea culpa, mas o subtítulo deixa claro que eu falo também das lições daquela experiência", disse ele durante sua passagem por São Paulo. No livro, ele foi enfático: "nós estávamos terrivelmente errados".
"Meu objetivo não é nem justificar erros, nem apontar culpas, mas principalmente identificar os erros que fizemos, compreender porque nós os fizemos, e considerar como eles podem ser evitados no futuro", escreveu ele no livro.
Seja lá de quem tenham sido os erros, não há dúvida de que foram caros. Os americanos perderam mais de 50 mil soldados; os vietnamitas contam em milhões as suas vítimas. O fracasso no Vietnã teve ramificações políticas intensas. Os gastos com a guerra afetaram pesadamente a economia dos EUA.
Apesar disso, em 1967, ele ainda respondia de modo arrogante sobre as chances de os EUA saírem vitoriosos -apesar de já estar, pessoalmente, começando a ter dúvidas, e estar prestes a sair do governo Johnson.
Durante uma audiência no Senado dos EUA, perguntado até quando os EUA poderiam sustentar a guerra sem efeitos adversos na economia e em programas governamentais, McNamara respondeu: "acho que para sempre".
O "para sempre" durou até 1973, quando os americanos retiraram suas tropas do Vietnã do Sul. Sem esse apoio, em 1975, o Vietnã do Norte comunista pôde tomar o seu rival capitalista em uma campanha-relâmpago.
Ironicamente, o papel de McNamara nos decisivos anos da escalada no Vietnã, a primeira metade da década de 60, foi criticado por todos os lados. Para os setores mais liberais, ele e seus colegas esposavam uma estratégia tecno-burocrática, que não levava em conta a complexidade do Vietnã -algo que ele próprio admitiu em parte.
Para muitos militares, foram os "limites" que ele pôs na sua ação -como a vontade da Força Aérea de bombardear o Vietnã do Norte "até ele voltar à Idade da Pedra" -que impediram uma vitória decisiva.
(RBN)

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