São Paulo, domingo, 30 de junho de 1996
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NÃO PARECE QUE FOI ONTEM

Dois anos é muito ou pouco tempo? A julgar pelos debates econômicos dos últimos meses, parece uma eternidade. Governo e críticos discutem o ritmo da privatização, o grau de retração ou reaquecimento da economia, o atraso cambial, o desequilíbrio crescente das contas públicas, o "custo Brasil" e a volatilidade dos fluxos de capitais.
Parece que a inflação foi há muito, muito tempo, um problema gravíssimo num país distante. Hoje há urgência de discutir outros temas.
Os mais críticos reconhecem que a estabilização surpreendeu pela engenhosidade, qualidade dos resultados e rapidez com que foi atingida, após tantos planos frustrados. E, amanhã, o plano completa apenas dois anos.
A favor ou contra, situação ou oposição, a possibilidade de uma agenda econômica tão mais ampla é, em si, uma conquista de toda a sociedade brasileira. A inflação impedia a visão. Tudo era curtíssimo prazo. Hoje, o futuro é um problema. Antes do real, ele nem existia.
O fato de a inflação estar fora da agenda nacional de modo tão convincente dá essa confortável sensação de que a "cultura inflacionária" foi vencida de uma vez por todas.
Entretanto, seria ingenuidade acreditar que dois anos é muito tempo. Essa sensação confortável, de problema superado, tem também muito de ilusão. O risco maior, aliás, é embarcar no conforto e acreditar que tudo é possível a partir de agora.
É preciso avançar em muitas frentes, com urgência: crescimento, ajuste fiscal, resgate da dívida social, aumento da poupança e do investimento. A dificuldade é lembrar, a cada momento, do compromisso com a manutenção de uma inflação declinante ou, no mínimo, estável.
Torna-se também a cada dia mais evidente que não se trata apenas de estabilizar os preços, mas sobretudo de construir um novo modelo de desenvolvimento. Outro tema que, há dois anos, poucos ousavam levantar.
A inflação baixa é uma conquista recente e frágil, mas inegociável.

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