São Paulo, segunda-feira, 1 de julho de 1996
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Allen inspirado faz 'Tiros'

INÁCIO ARAUJO
DA REDAÇÃO

À medida que aumenta a distância de Mia Farrow, parece crescer também a inspiração de Woody Allen.
"Tiros na Broadway" (HBO, 20h30) é um bom exemplo de como Woody vem administrando a angústia e transformando-a em comédia. John Cusack faz o escritor que, para montar uma peça, recorre ao dinheiro de um gângster.
Em troca, tem de engolir a namorada do gângster como atriz, o que não é fácil. A compensação virá na pessoa do guarda-costas (Chazz Palminteri) da garota.
Se o escritor tem a seu favor o conhecimento intelectual, o brutamontes que protege a garota tem a vivência necessária a transformar um texto em coisa viva (atributo de que não podem se passar coisas como peças de teatro ou filmes).
Em Woody Allen, o humor não depende de um encontro em particular. Ele os tira de qualquer elemento. E a velha prima-dona (Dianne Wiest), assim como o ator com tendência a engordar, servem. Servem também, como de costume, a figura e a postura de Woody.
O achado do filme vem menos do tema óbvio (a integridade artística) do que da constatação produzida pela presença incômoda do guarda-costas (algo que atores normalmente dispensam).
E, sendo um corpo estranho na trupe, o guarda-costas torna-se duplamente incômodo, com seus palpites. E ao fim de algum tempo percebemos que, se alguém ali não é estranho ao teatro, é o brutamontes.
Com essa inesperada inversão, Woody mistura os dois registros, como a dizer que a vida não tem leis, mas o teatro tem. E, se a vida está sempre aberta ao inesperado, no teatro o inesperado é uma construção cuidadosa.
(IA)

Texto Anterior: TVs exploram o lado sanguinolento do caso PC
Próximo Texto: Tumulto; Faustão em Sampa; Uma Hora no Ar
Índice


Clique aqui para deixar comentários e sugestões para o ombudsman.


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.