São Paulo, quarta-feira, 3 de julho de 1996
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Vitória

ANTONIO DELFIM NETTO

O Brasil do presidente Fernando Henrique Cardoso tem muita coisa a comemorar no segundo aniversário de sucesso do Plano Real executado a partir de 1º de julho de 1994.
A taxa de inflação mensal medida pelo índice do custo de vida caiu de 40% ao mês no trimestre anterior ao real (abril/junho de 1994) para qualquer coisa parecida com 1% no último trimestre (abril/junho de 1996).
A taxa de inflação mensal pós-real é mais ou menos equivalente à taxa de inflação diária no pré-real. Esse é um resultado extraordinário, principalmente se considerarmos que não há um controle de preços visível, que as tarifas dos serviços públicos estão relativamente ajustadas e que as expectativas são de uma redução continuada da taxa de inflação.
Tem razão o governo quando diz que apesar dos bons resultados há ainda muito a fazer nesse campo. A tabela abaixo dá as "estimativas" de inflação de 1996 e 1997 dos famosos "projetadores" reunidos mensalmente pela "The Economist":

Inflação anual projetada (%)
País 1996 1997
Alemanha 1,6 2,0
Austrália 3,3 3,3
Canadá 1,7 2,1
França 2,0 1,9
Inglaterra 2,5 3,0
Itália 4,3 4,1
Japão 0 1,1
EUA 3,0 3,1
Brasil 14,0+ ?
+ projeção corrente. Fonte: "The Economist", 8 de junho de 1996

A tabela revela duas coisas: 1) que se forem mantidas as condições atuais, nossa taxa de inflação, apesar de baixa por nossos padrões, é ainda seis vezes maior do que a do mundo desenvolvido; 2) que os "projetadores" esperam uma ligeira alta da taxa de inflação mundial, o que diante da paranóia criada pela volatilidade dos mercados pode significar um aumento preventivo da taxa de juro mundial.
Mesmo nos EUA, que possuem um mercado de trabalho flexível, uma taxa de desemprego relativamente baixa (5,4%, contra mais de 10% nos demais), mas ainda bastante alta para uma sociedade civilizada, onde tudo é privatizado e onde há a maior experiência de regulamentação e controle das naturais tendências monopolísticas do mercado, um pequeno aumento de crescimento pode levar o FED a aumentar "preventivamente" a taxa de juros.
O FED decidiu que 2,5% ao ano é a taxa de crescimento sustentável sem aceleração da inflação. Como a previsão é de que a economia agora está crescendo entre 3% e 3,5%, provavelmente o FED vai aumentar a taxa de juros. Ele ainda não agiu para não irritar o candidato Bill Clinton e porque Alan Greenspan ainda não foi confirmado pelo Senado.
Hoje é dia de comemorar a vitória parcial sobre a inflação que certamente mudou a cara da economia nacional. Não se deve, portanto, desestimular a continuação do combate. As observações sobre alguns custos não-necessários dessa batalha devem ficar para outro dia.

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