São Paulo, quinta-feira, 4 de julho de 1996
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CTI PARA A CPI

PC Farias, o símbolo da corrupção no Brasil, está morto. A corrupção, não. Muito longe disso. Mesmo que não se venha a desvendar -como é bastante provável- as verdadeiras causas da morte de PC, não há nenhuma razão para não tentar ao menos descobrir quem são os corruptos e os corruptores deste país.
Como a própria etimologia da palavra "corrupção" atesta, é necessário que haja alguém disposto a pagar e outro a receber para que esse perverso fenômeno se realize. O próprio Código Penal, como que rendendo-se às exigências linguísticas e penais, diferencia a corrupção ativa (aquele que paga) da passiva (aquele que recebe).
Curiosamente, no Brasil, procederam-se a umas poucas e fracas investigações visando apenas a apanhar os que teriam recebido algo em troca de sabem-se lá quais favores. O lado daqueles que pagaram para receber algo jamais foi, nem mesmo que na aparência, apurado.
Assim, é mais do que oportuna a proposta do senador Pedro Simon (PMDB-RS) de enfim ativar a CPI (Comissão Parlamentar de Inquérito) dos Corruptores, que já conta com as assinaturas necessárias para sua instalação, mas que não tem andamento simplesmente porque seus membros ainda não foram indicados pelos partidos.
É incrível que, depois do impeachment de um presidente, do escândalo dos anões do Orçamento e tantos outros casos de irregularidades envolvendo o dinheiro público, as agremiações políticas em geral não se tenham sensibilizado com a necessidade de pelo menos tentar mostrar os dois lados da moeda.
Fica a incômoda sensação de que alguém, assim como quis sepultar o arquivo que era PC, quer também sepultar o resgate da ética nacional.
Paulo César Farias está morto. A CPI dos Corruptores ainda não, mas está precisando de um CTI (Centro de Terapia Intensiva).

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