São Paulo, sexta-feira, 5 de julho de 1996
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Irmãos Coen ensaiam volta ao lar em 'Fargo'

EDUARDO SIMANTOB
DO PUBLIFOLHA

O Estado norte-americano de Minnesota, segundo o senso comum daquele país, é sinônimo de nada -aí embutido todo e qualquer preconceito cosmopolita. E é nesse cenário teoricamente estéril que os irmãos Joel e Ethan Coen (naturais de Minnesota, aliás) resolveram reinventar um drama policial acontecido em 87. O resultado é "Fargo", que estréia hoje.
É uma tragédia estúpida, devido às motivações mesquinhas de seus protagonistas, a começar pelo vendedor de carros que planeja o sequestro da própria mulher para conseguir dinheiro do sogro e quitar suas dívidas. Nada acontece como planejado, e a comédia de erros se segue banhada a sangue.
Joel, o diretor, e Ethan, produtor, apesar de mais sintonizados com a cena dita "independente", construíram um respeitável currículo dentro do "sistema" de Hollywood. Realizaram suas próprias histórias, sem a interferência de previsões de bilheteria ou da obrigatoriedade de finais felizes.
Em "Fargo", os Coen ensaiam uma volta ao lar, ao sotaque caipira do Minnesota, à estupidez das vidas estéreis dos habitantes, contrastadas a uma humanidade de cidade do interior, representada pela policial grávida Marge Gunderson (Frances McDormand).
McDormand certamente rouba a cena, mas o elenco, enxuto e muito bem-escolhido, não fica atrás.
Em "Fargo", além do clima volta-ao-lar, destaca-se um retorno ao estilo seco e angustiante do primeiro filme, "Gosto de Sangue", para alguns críticos o melhor trabalho da dupla até hoje. Apontou-se em "Fargo" uma reaproximação a um certo realismo, esquecido nas estranhezas dos filmes seguintes a "Gosto de Sangue".
Mas dizer que é um filme realista é grosso exagero, mesmo que a afirmação tenha saído da boca do diretor. Não é um filme documental, não houve pesquisa real das circunstâncias do caso verídico.
O grotesco e o caricatural estão em todos os personagens, e seria de um extremo mau gosto, preconceitos à parte, caracterizar os habitantes de Minnesota, por mais insípido, como uma totalidade de tipinhos ridículos.
"Fargo" tem seu grande mérito nessa reinvenção do "fato verídico", que confere ao esforço de criação dos Coen uma qualidade autoral hoje em dia não muito frequente no cinema americano.

Filme: Fargo
Direção: Joel Coen
Quando: a partir de hoje, nos cines Olido 3, Bristol e Lumière 1

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