São Paulo, domingo, 7 de julho de 1996
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Sexóloga, 68, ensina a alongar a vida sexual

PAULO SAMPAIO
DA REPORTAGEM LOCAL

Com 26 anos de clínica e 14 livros publicados, a alemã Ruth Westheimer, 68, é uma das sexólogas mais populares dos Estados Unidos. Há 15 anos ela começou a falar sobre sexo também no rádio, no programa "Sexualmente Falando", e depois na TV, no "Dr. Ruth Show", transmitido de costa a costa.
Há dois anos ela se afastou da TV para montar a "Enciclopédia Sexual da Dra. Ruth". No Brasil para lançar a enciclopédia em CD-ROM, Ruth, que também apresentou uma série para a TV chamada "Nunca é Tarde", falou à Folha com exclusividade sobre sexo na terceira idade.
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Folha - Com o aumento da expectativa de vida, como fazer para prolongar também o período sexualmente ativo?
Ruth Westheimer - As pessoas costumam relacionar o próprio desempenho sexual com o que vêem na mídia (corpos bonitos, amantes sempre ardentes), e isso é ruim. Está cada vez mais difícil cumprir essa expectativa. O primeiro passo para quem pretende prolongar a vida sexual é ser realista. Ninguém deve esperar ter dez orgasmos em uma noite. O segundo é conhecer as próprias limitações: um senhor de 70 anos não vai se pendurar no lustre, pelado, para estimular a parceira. O terceiro é jamais perder o bom humor.
Folha - Tabus como sexo anal e posições diferentes tendem a ser agravados com a idade?
Ruth - Absolutamente. O idoso tem de ter até mais possibilidades à disposição, já que fisicamente está mais cansado.
Folha - Quando a mulher está no ápice de sua atividade sexual?
Ruth - Costuma-se dizer que aos 35 anos, mas é preciso ter cuidado. Se a mulher já passou dessa idade e lê uma afirmação dessas, pode cair em depressão. O melhor é pensar que, se ela se informa sobre sexo, procura se conhcer e tem boa saúde, então pode chegar aos 99 ativa.
Folha - Qual a reclamação que a senhora mais ouve das idosas?
Ruth - Muitas reclamam de solidão. Se elas precisam também de sexo, eu recomendo que se masturbem. Conheci uma mulher de 73 anos que costumava sair para dançar com o marido e, na volta, os dois sempre transavam. Um dia ele morreu, e ela passou um tempo sem dançar até que um grupo de amigos a chamou para ir ao clube. Ela foi e, na volta, sentiu falta de sexo. Eu a aconselhei a comprar um vibrador. Seis meses depois ela encontrou um viúvo no baile e se casou. Se não tivesse me ouvido, ela nunca mais teria ido dançar. Estaria viúva até hoje.
Folha - É comum que uma mulher de 65, 70 continue tendo vontade de transar todos os dias?
Ruth - A vontade da mulher muda. A TV nos EUA afirma que uma pessoa sadia pode ter sexo oito vezes por semana. Eu diria que as pessoas mais velhas podem ter sexo três vezes por semana.
Folha - O sexo com penetração é mais raro entre idosos?
Ruth - O pênis ereto de um homem mais velho costuma ser menos firme - mas é o suficiente para uma penetração. As ereções, com a idade, deixam de ser psicogênicas (induzidas pelo pensamento) e passam a acontecer pelo contato físico. É preciso massagear o pênis ou encostá-lo no corpo da parceira para conseguir a ereção.
Folha - A perda do apetite sexual das mulheres com a idade é maior do que a dos homens?
Ruth - Não. Apenas espera-se que ela não tenha interesse sexual depois da menopausa. Muitas incorporam isso e não pensam no assunto. Uma pena.
Folha - É possível ter bom sexo depois da menopausa?
Ruth - As paredes da vagina ficam ressecadas na menopausa, mas eu digo às minhas clientes que usem um creme lubrificante. Claro que é possível ter bom sexo pelo resto da vida. Veja: as mulheres mais velhas estão mais tranquilas, porque as crianças se foram de casa, não há preocupação com gravidez, a disponibilidade de tempo é maior... Pensando bem, é até melhor fazer sexo mais velha.
Folha - Mas o corpo de um homem velho não é mais tão atraente quanto o de um jovem.
Ruth - A cultura diz que a gente tem de ter 25 anos e um corpo escultural. Eu digo: isso é besteira. Se um relacionamento não é bom entre marido e mulher, o sexo vai ser ruim mesmo aos 25. A gente tem de deixar as bobagens da mídia do lado de fora do quarto.
Folha - Supõe-se que, quando a mulher é mais velha, diminui a expectativa com relação à quantidade e aumenta com a qualidade.
Ruth - A mulher ainda pode pensar no tamanho do pênis, mas é bom que ela saiba que isso não tem nada a ver com satisfação sexual. O melhor que se tem a fazer, sempre, é se ajustar à realidade.
Folha - Qual a dúvida mais frequente das mulheres?
Ruth - Como fazer para atingir o orgasmo. Segundo uma pesquisa do laboratório americano Master & Johnson, apenas 30% das mulheres sexualmente ativas conseguem chegar lá. Elas reclamam também da necessidade de ter carinho depois do sexo.
Folha - É preciso ser boa de cama para falar de sexo?
Ruth - Certamente.
Folha - Além da experiência e do curso de psicologia, o que a senhora sabe de medicina?
Ruth - Converso muito com ginecologistas, obstetras, urologistas. Tento passar ao meu público o que aprendo em uma linguagem mais acessível.
Folha - A senhora é casada?
Ruth - Sim, há 35 anos e com o mesmo marido. Ele tem 69 anos.
Folha - E ainda é ativa sexualmente?
Ruth - Claro!

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