São Paulo, domingo, 7 de julho de 1996
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Republicano contraria assessores

CARLOS EDUARDO LINS DA SILVA
DE WASHINGTON

É um lugar-comum nos círculos políticos de Washington o comentário de que Bob Dole só tem um assessor: ele próprio.
Circula como verdade a versão de que nem sua mulher foi consultada, por exemplo, antes de ele ter decidido renunciar ao Senado para se dedicar apenas à campanha.
Em geral, quando ele desobedece aos conselhos de seus consultores, Dole se vê em apuros.
Foi o caso do cigarro: ele foi instado centenas de vezes a não entrar nesse debate, mas cada vez mais se atola na discussão.
Também foi assim com o teleprompter, a telinha em que a maioria dos políticos (como os locutores de telejornais) lê os textos de seus discursos. Dole não gosta dele e não quer usá-lo.
Nas poucas vezes em que se valeu do teleprompter, o resultado foi bom, surpreendente até, como na sua despedida do Senado.
Quando não, Dole costuma se perder em um emaranhado de frases intercaladas que não se completam e reforça a impressão de senilidade que sua aparência física e os 73 anos de idade (a se completarem no próximo dia 22) já realçam.
Mas às vezes a intuição do político há 35 anos em Washington acerta em cheio. A renúncia ao Senado foi o único grande momento de sua campanha até agora.
Aborto
Outro exemplo foi a recente declaração, não recomendada pelos assessores, de que as pessoas favoráveis ao direito ao aborto são bem-vindas em seu time, e que uma delas pode até ser o seu companheiro de chapa.
O receio dos que disseram a Dole para evitar essa abordagem é que ela ponha a perder a sua base de sustentação conservadora e rache o Partido Republicano.
A ala direita dos republicanos, liderada pelo jornalista Pat Buchanan, já ameaçou deixar o Partido se o vice de Dole não for um opositor do aborto.
Mas a maioria do país é a favor do direito ao aborto, e Dole pode ter estimado que aos conservadores não resta outra saída a não ser votar nele e que, em algum lugar no espectro ideológico, sua campanha precisa abrir espaço para os não-conservadores.
Seu raciocínio parece estar certo. As pesquisas mostram que sua posição sobre o tema não alienou os ultraconservadores e até ajudou a diminuir um pouco a antipatia da maioria das mulheres pela sua candidatura.
(CELS)

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