São Paulo, domingo, 7 de julho de 1996
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Cultura quer Raí como 'repórter'

ARMANDO ANTENORE
DA REPORTAGEM LOCAL

O repórter da Rede Cultura, usando calça jeans e um elegante blazer cinza, caminha em direção à câmera.
Traz a mão direita no bolso. Com a esquerda, segura o microfone: "Estamos numa escola francesa do século 19, que tem uma história interessante. Foi construída por Gustave Eiffel, o mesmo da torre Eiffel."
Não haveria nada de surpreendente na cena -mais uma entre as tantas de caráter didático que a emissora pública de São Paulo costuma exibir. Só há surpresa porque o repórter é Raí.
A Cultura quer transformar o tetracampeão mundial de futebol e meia-atacante do Paris Saint-Germain em correspondente na França. Há quase dois meses, gravou um teste com o atleta.
Colocou-o no pátio da escola parisiense para falar sobre os desfiles de moda que agitam a cidade todos os anos.
Raí concentrou-se principalmente em Romeo Gigli. Comentou o trabalho do estilista italiano e conversou com modelos. Por fim, alertou para as falsificações que andam infestando o mercado "fashion".
A reportagem durou seis minutos e agradou. "Esperamos lançar o novo correspondente entre o fim de agosto e o início de setembro", afirma Jorge da Cunha Lima, presidente da Fundação Padre Anchieta, responsável pela Cultura.
Sucursal
O "projeto Raí" é, na verdade, a ponta de um iceberg. A emissora está montando uma pequena sucursal em Paris, que realizará oito reportagens mensais.
Quatro abordarão, num tom mais analítico, os principais acontecimentos da França e outros países europeus. O foco, aqui, se voltará especialmente para a política e a economia.
As quatro reportagens restantes ficarão por conta de Raí. Irão tratar apenas de temas culturais -da música à culinária, da dança à vida noturna.
"Não gosto da palavra 'reportagem'. Prefiro dizer que Raí produzirá crônicas sobre Paris", corrige o carioca Glenio Bonder, diretor de programas independentes há mais de 15 anos e futuro chefe da sucursal.
Foi ele quem teve a idéia de aproveitar o jogador. "Raí mora na cidade desde 93. Frequenta cinemas, teatros e shows. Sabe muito bem do que vai falar."
O atleta escolherá os assuntos das "crônicas" em parceria com Glenio, que também o ajudará a escrever os textos. A produtora francesa SiiS deverá participar da empreitada fornecendo equipamentos e técnicos.
A sucursal terá um custo de aproximadamente R$ 40 mil por mês. A Cultura, que enfrenta sucessivas crises financeiras, tenta abater os gastos junto à iniciativa privada. Já abriu negociações com a Rhodia e a Renault.
"Atuar fora de meu habitat natural é interessante", diz Raí, 31. "Só que ainda não me sinto confortável diante das câmeras. Preciso treinar mais. Queria me apresentar como se estivesse batendo papo com os amigos."

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