São Paulo, quinta-feira, 11 de julho de 1996
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Imposto é derrota para equipe econômica

VALDO CRUZ; FERNANDO RODRIGUES
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

Malan e Kandir eram contra a taxa temendo alta nos preços; FHC quis rebater críticas à área social do governo

A aprovação da CPMF ontem pela Câmara, em primeiro turno, representou uma derrota da equipe econômica e uma vitória da ala política do governo FHC.
Os ministros Pedro Malan (Fazenda) e Antonio Kandir (Planejamento), além do presidente do Banco Central, Gustavo Loyola, são contra a proposta.
A área econômica avalia que o novo imposto do cheque vai aumentar a taxa de juros e pressionar os custos das empresas. Isso pode resultar em reajuste de preços, pondo em risco o Plano Real.
Além disso, vai desestimular as aplicações financeiras. Algumas projeções indicam que a poupança ficará sem rendimento após a implantação da nova contribuição.
Kandir chegou a se atritar com o ministro Adib Jatene (Saúde), logo depois de tomar posse, ao criticar a proposta defendida pelo colega.
O ministro do Planejamento recuou depois que o Palácio do Planalto divulgou que o presidente Fernando Henrique Cardoso mantinha o apoio à idéia de Jatene.
Ontem, até as 20h, Malan e Kandir informavam que não comentariam a aprovação da CPMF.
Objetivo eleitoral
FHC vai usar a CPMF como uma resposta aos que criticam a área social de seu governo. Dirá que se dedicou sinceramente ao projeto.
O discurso tem um objetivo eleitoral. Principalmente na disputa mais vital para FHC, em São Paulo -onde José Serra (PSDB) concorre contra Luiza Erundina (PT).
Como a direção do PT foi contra a CPMF, os tucanos tentarão sugerir que Erundina não conseguirá governar por causa das imposições do partido.
Por essa razão política, FHC resolveu colocar de lado os argumentos econômicos. Além disso, temia um pedido de demissão de Jatene. Se o ministro saísse do governo descontente, poderia negar apoio político a José Serra.
Ou pior, passar a apoiar o candidato malufista Celso Pitta -uma das ameaças às aspirações do tucano de chegar ao segundo turno.
Ontem, na reunião com seus líderes no Congresso, FHC admitiu que era a contra imposto. "Mas os senhores têm de me dar alguma coisa para eu pagar as santas casas", disse o presidente.
Os líderes entenderam a senha. Saíram da reunião com o objetivo de virar a votação, dada como perdida. Foi uma vitória tipicamente de plenário. Mais de 30 votos foram conquistados nos últimos 15 minutos de votação.

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