São Paulo, quinta-feira, 11 de julho de 1996
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Ataque faz 370 mortos, diz tchetcheno

JAIME SPITZCOVSKY
ENVIADO ESPECIAL A MOSCOU

Tropas russas cercaram e bombardearam ontem o vilarejo de Mahketi, localizado no sul da república separatista da Tchetchênia, com o objetivo de destruir o quartel-general móvel dos rebeldes tchetchenos.
Pelo menos 370 pessoas morreram e 170 ficaram feridas na recente operação lançada pela Rússia na Tchetchênia, segundo o porta-voz dos tchetchenos na Turquia, Muslim Elikhanov.
Prisão
A operação evidencia escalada da ofensiva russa e enterra a trégua acertada em maio entre o presidente russo, Boris Ieltsin, e o líder rebelde, Zelimkhan Iandarbiev.
Uma ordem de prisão contra Iandarbiev teria sido decretada pelo comandante militar russo na Tchetchênia, Viatcheslav Tikhomirov. Mas o major Igor Melnikov, chefe do centro de imprensa militar na região, negou a existência de tal ordem.
A emissora de rádio Eco de Moscou disse que, em represália à suposta ordem de prisão, Iandarbiev ordenou a captura do comandante Tikhomirov. A sua detenção teria sido ordenada "por causa do genocídio do povo tchetcheno".
Pelo menos vinte civis morreram no cerco a Mahketi, disseram autoridades locais pró-separatistas.
O conflito na Tchetchênia, iniciado em dezembro de 1994 com envio de tropas russas para esmagar o separatismo, já matou mais de 30 mil pessoas, na maioria civis. A república declarou independência em 1991.
Sob controle
O primeiro-ministro russo, Viktor Tchernomirdin, disse que a situação na Tchetchênia está "sob controle" e que Moscou insiste numa "solução negociada".
Ieltsin fechou trégua e acordo de retirada de tropas durante campanha para a eleição, que o presidente venceu no último dia 3.
Depois da vitória eleitoral, as tropas russas retomaram ataques. Elas acusam os rebeldes de violar a trégua assinada em maio.
Retaliação
Na terça-feira, tropas federais atacaram o vilarejo de Gekhi. Os rebeldes se recusaram a entregar prisioneiros russos, ignorando ultimato lançado pelo general Viatcheslav Tikhomirov.
O comandante disse que o ataque a Mahketi era "retaliação" ao fato de os separatistas não aceitarem o ultimato.
As tropas russas buscavam disparar contra casas em Mahketi onde, segundo informações do seu serviço de inteligência, estaria o quartel-general de Iandarbiev.
No comando dos separatistas desde abril, Iandarbiev substitui Djokhar Dudaiev, que foi morto durante bombardeio russo.
A Rússia, formada por cerca de cem etnias, reprime a rebelião na Tchetchênia com medo de novas explosões separatistas.
Moscou também não quer perder uma região rica em petróleo e numa posição estratégica pela proximidade a países vizinhos e rivais, como o Irã e a Turquia.

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