São Paulo, sexta-feira, 12 de julho de 1996
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Inquérito da morte de Senna vai de mal a pior

BARBARA GANCIA
COLUNISTA DA FOLHA

A edição da semana passada da revista italiana "Autosprint", que qualquer fã de automobilismo conhece de cor e salteado, traz na capa uma reportagem relatando a quantas anda o inquérito sobre as causas da morte de Ayrton Senna.
Mais de 25 meses se passaram desde que Senna perdeu a vida na curva Tamburello, e o inquérito só deve ser concluído em novembro. Ou seja, no fim das contas, terão sido jogados fora dois anos e quatro meses de blablablá.
Eu explico: na Itália, como aqui, o Código Penal não leva em conta acidentes ocorridos em pistas de corrida. Quando acontecem, são tratados como se tivessem ocorrido, digamos, na autostrada Del Sole ou na marginal Pinheiros.
E a parte responsabilizada pelo acidente fatalmente acabará sendo acusada de homicídio culposo, ou seja, homicídio sem intenção.
Segundo a "Autosprint", o promotor Maurizio Passarini pediu que o caso seja encaminhado a uma segunda instância, uma vez que o juiz que presidiu o inquérito inicial excluiu a culpabilidade de Frank Williams, proprietário da equipe de Senna, e de seu engenheiro, Patrick Head.
Agora, Williams e Head correm novamente o risco de ser indiciados. E peritos do tribunal andam questionando também a responsabilidade do autódromo. Segundo eles, ondulações no asfalto da Tamburello teriam causado o acidente.
Deixemos de lado o fato de que nenhuma perícia que poderia confirmar essa suposição tenha sido realizada e que, depois do acidente de Senna, a Tamburello foi completamente reformada.
Deixemos de lado também o absurdo de responsabilizar judicialmente o dono e o engenheiro da Williams pela quebra da coluna de direção.
Não entro nem mesmo no mérito da questão de que foi o próprio Ayrton Senna quem pediu modificações na tal coluna. E que essas mudanças poderiam ter causado a quebra do equipamento.
Ainda assim, esse inquérito é o fim da catacumba.
Como é que se podem julgar na mesma moeda acidentes de trânsito e aqueles ocorridos em locais onde a velocidade é lei?
Ninguém aponta carabina para a cabeça de piloto a fim de obrigá-lo a correr. E, vamos e venhamos, não é à toa que até os pés-de-breque da F-1 ganham uma nota preta.

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