São Paulo, sexta-feira, 12 de julho de 1996
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Bolsas temem uma fuga para Nova York

DA REPORTAGEM LOCAL

Banqueiros de investimento e corretores de valores temem que a CPMF (Contribuição Provisória sobre Movimentação Financeira) esvazie o mercado brasileiro de ações, hoje em franca expansão.
A lógica é a seguinte: a ação mais negociada nas Bolsas é a Telebrás, que ontem respondeu por 79,3% do volume com papéis do Ibovespa (índice das mais negociadas na Bolsa paulista). Com a CPMF, de 0,20% sobre cada transação, o custo de operar Telebrás na Bovespa sobe de seis a dez vezes, conforme a transação.
Como entre 30% e 40% do volume de negócios com Telebrás é feito na Bolsa de Nova York, por meio dos ADRs (American Depositary Receipts, espécie de recibos de ações), os corretores internacionais e os corretores locais com exposição externa vão preferir negociar a ação lá fora -sai mais barato e o lucro com o potencial do papel é o mesmo.
"A CPMF é um desastre total. Ele dobra o custo local de operação: com duas transações, fica em 0,4%. A média da taxa de corretagem local sobe para 0,8%. Perdemos competitividade, sem contar os emolumentos da Bolsa de Nova York, que são menores que os da Bovespa", diz Cláudio Haddad, diretor do Banco Garantia.
"Burrice"
Para Álvaro Augusto Vidigal, ex-presidente da Bovespa, a CPMF é "um imposto burro".
"Merece nota zero. Significa uma fuga dos investidores da Bovespa para Nova York", reclama Vidigal.
Segundo ele, os investidores estrangeiros são responsáveis por cerca de 32% dos investimentos na Bolsa. Num dia como ontem, os estrangeiros responderiam por R$ 200 milhões dos R$ 620 milhões negociados na Bovespa.
Com a CPMF, deve-se perder metade disso, prevê Vidigal. Em liquidez (quantidade de dinheiro no mercado), entretanto, a perda será maior, de 20% a 30% das aplicações.
No caso dos CDBs (Certificados de Depósito Bancário) de 30 dias, Vidigal analisa que os aplicadores ficarão numa sinuca: como a taxa líquida de um CDB está próxima de 1,60%, que é o equivalente à inflação medida pelo IPC (Índice de Preços ao Consumidor) da Fipe, ou os bancos aumentam os juros, ou os aplicadores migrarão para outros ativos.
"O governo provavelmente terá de arcar com um aumento de juros", diz o ex-presidente da Bovespa.
Se a poupança não for isenta da CPMF, Vidigal acredita que "haverá fuga para o consumo e o governo terá problemas com a inflação".
Vidigal acredita que poderá haver fugas para ouro e dólar, o que representa outro problema para o Banco Central: ele terá de aumentar a taxa de juros do mercado aberto para evitar essa fuga.
Monetização
Renê Aduan, diretor do Banco Real, prevê uma monetização grande do dinheiro (maior volume nas contas correntes) e desintermediação financeira (os cheques vão circular mais na economia antes da compensação).
Executivos financeiros ligados à área de crédito imobiliário dizem que eventual compensação da CPMF em poupanças trimestrais, como ocorreu na época do IPMF, encareceria muito o custo do dinheiro para os bancos.
Além disso, não faria muito sentido dar compensação justamente a quem vai retirar o dinheiro.

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