São Paulo, sexta-feira, 12 de julho de 1996
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Sexo e catolicismo brigam em "Os Irmãos McMullen"

JOSÉ GERALDO COUTO
ESPECIAL PARA A FOLHA

Sexo e catolicismo não são termos muito fáceis de conciliar. Que o digam os três protagonistas de "Os Irmãos McMullen", filme de estréia de Edward Burns, que além de escrever e dirigir ainda interpreta um dos irmãos.
São três irlandeses robustos e na flor da idade, emigrados para Nova York e abandonados pela mãe, que depois de ficar viúva resolveu ir atrás de um amor de juventude.
O mais novo, Patrick (Mike McGlone), acaba de sair da faculdade e hesita diante das pressões da namorada para casar. O mais velho, Jack (Jack Mulcahy), é casado e dá aula de educação física na universidade. O do meio, Barry (Burns), é um roteirista e cineasta iniciante que não quer saber de se envolver com garotas.
A história pega os três em momentos de crise. Patrick, católico praticante, é assediado pela culpa por fazer sexo com a namorada, mas não se dispõe a casar. Jack também é assediado, mas por uma morena sexy e oferecida.
A culpa vem depois. Barry, que costuma falhar na cama graças ao excesso de bebida, encontra casualmente a mulher da sua vida (Maxine Bahns) e tem de optar entre ela e a carreira.
Com um roteiro enxuto e um orçamento mais ainda (diz a produção que o filme custou improváveis US$ 20 mil), Burns entrelaçou esses pequenos dramas de modo delicado e divertido.
Típica produção independente americana, com atores desconhecidos e muita atenção aos diálogos, é o que se poderia chamar de um filme simpático, que extrai seu encanto do modo franco e caloroso com que flagra seus personagens no contrapé, prestes a cair ou a dar um salto adiante.
Apesar do título e do primeiro plano dado aos homens, as mulheres têm um papel decisivo nesta mistura de comédia de costumes e drama romântico. Elas aparecem em todos os exemplares possíveis: a esposa fiel, a sirigaita, a noiva ansiosa, a indomável e decidida.
Uma delas, ao explicar por que abandonou o catolicismo, define o ponto central do filme: "Eu não podia fazer sexo com meu namorado. Se fizesse, não podia usar camisinha nem tomar pílula. Se ficasse grávida, não podia abortar. Em suma: não dá para ter uma vida sexual saudável sendo católica".
Diálogos assim são raros no cinemão pasteurizado dos EUA. O interessante de "Os Irmãos McMullen" é exatamente isso: os personagens têm cara de gente, agem como gente, falam como gente. Quando tudo descamba para um certo clichê romântico, no final, o espectador já virou amigo desses irlandeses desajeitados e embarca com eles na alegria.

Filme: Os Irmãos McMullen
Produção: EUA, 1994
Direção: Edward Burns
Elenco: Edward Burns, Jack Mulcahy
Onde: Espaço Unibanco de Cinema

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