São Paulo, sexta-feira, 12 de julho de 1996
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Acervo beneditino espera patrocínio

Restauro de mosteiro aguarda R$ 2,5 mi

ALVARO MACHADO
ESPECIAL PARA A FOLHA

O acervo artístico dos mosteiros beneditinos de São Paulo e Sorocaba (SP), de valor inestimável mas em sofrível estado de conservação, está prestes a receber solução definitiva para sua preservação.
Com o conhecimento da comunidade beneditina, que afirma não ter recursos para bancar um empreendimento de tal extensão, circula desde março entre empresas privadas um projeto de restauração no valor de R$ 2,5 milhões.
Sob a responsabilidade da Arteoficina SP Assessoria, o projeto prevê intervenções em telas, murais, esculturas, madeiras, vitrais e metais dos conjuntos beneditinos paulistas -incluindo, na Capital, a Basílica de São Bento, suas capelas laterais e a Capela do Colégio.
O patrocínio está em análises finais pela Suvinil Tintas, entre outras empresas, e pode envolver a cessão, pelo mosteiro, de espaço publicitário situado no topo do edifício Fernão Dias, de 22 andares, um dos pontos de mais alta visibilidade do vale do Anhangabaú.
O projeto exigirá seis anos de trabalho de uma equipe chefiada pela especialista Nilva Calixto (leia texto nesta página) e inclui o restauro da casa de nº 111 da rua Florêncio de Abreu, construída em meados do século passado e anexada ao mosteiro paulistano mediante troca por outros edifícios do centro.
Já houve planos da comunidade beneditina de transformar a casa em instituto cultural que, junto a obras, abrigaria terminais de computador para permitir ao público acesso ao catálogo de 80 mil volumes da Biblioteca do Mosteiro.
A informatização da biblioteca -que possui um fac-símile do pergaminho assírio "Codex Hamurabi"- é uma "necessidade do mosteiro e será encaminhada independente de patrocínio", afirma dom Estevão Souza, professor de Filosofia da Unicamp e porta-voz beneditino.
Por ordem do abade dom Isidoro de Oliveira Preto, a restauração do acervo de arte do mosteiro de São Paulo se iniciou em 1990, pela pequena e reservada capela abacial, com resultados surpreendentes.
Sob uma camada de tinta dos anos 60, Nilva Calixto descobriu pinturas originais feitas em 1921 pelo monge beneditino holandês Adelbert Gresnicht (1877-1956).
Os desenhos e pinturas desse artista, discípulo de Desiderius Lenz e da escola alemã de Beuron, estão em todas as paredes e no teto da basílica, conferindo à construção um ar entre bizantino e art déco, porém é evidente o escurecimento causado pela poluição.
Restaurações emergenciais estão sendo tocadas com recursos do mosteiro. Entre as obras em ateliê estão as estátuas que ladeiam o altar-mor da basílica: São Bento e sua irmã gêmea, Santa Escolástica, modeladas em barro por Frei Agostinho de Jesus (1610-1661).
No entanto, as obras mais atingidas, com perda de parte da capa pictórica, são os "murais morais" da Capela do Colégio de São Bento, de autoria dos monges alemães Thomaz Scheuchl e Notker Becker, bem como os 18 inspirados vitrais desse salão, cujas ligas de chumbo sofreram expansão.
Já no imenso conjunto colonial beneditino de Sorocaba, o problema é a deterioração da própria estrutura dos prédios. Com pisos desabados e áreas interditadas, o conjunto depende de uma reforma orçada em U$S 7 milhões em 1993 pelo escritório paulista de arquitetura Risi/Tomchinsky.
"Quando souberam do montante, as empresas que acenaram com patrocínio recuaram", diz dom Estevão. Consta que, informado do estado precário do prédio beneditino, o empresário Antônio Ermírio de Moraes, natural de Votorantim, cidade contígua a Sorocaba, afirmou desconhecer a existência do Mosteiro.

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