São Paulo, segunda-feira, 15 de julho de 1996
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Gays pedem voto contra preconceito

PAULO GIACOMINI
ESPECIAL PARA A FOLHA

Com uma plataforma voltada para a defesa dos direitos humanos e a conquista da cidadania plena para gays, lésbicas e travestis, pelo menos dez homossexuais assumidos são candidatos a vereador de norte a sul do país.
São oito candidatos gays, um travesti e uma lésbica -seis do PT e um do PDT, PFL, PGT (Partido Geral dos Trabalhadores) e PSTU (Partido Socialista dos Trabalhadores Unificado).
Presidentes, fundadores, militantes dos grupos de gays e lésbicas ou independentes, o objetivo dos candidatos é enfrentar, pessoalmente, o preconceito e a discriminação contra os homossexuais nas Câmaras Municipais.
A maioria defende um programa comum (veja quadro), discutido entre oito pré-candidatos numa reunião em fevereiro último, em Salvador (BA).
Batizado de "Fórum Brasileiro de Gays e Lésbicas na Política", o encontro decidiu que a candidatura de homossexuais deveria dar visibilidade à defesa dos direitos humanos de gays, lésbicas e travestis.
Projetos Para o antropólogo Luiz Mott, 50, que reuniu os pré-candidatos, o lançamento das candidaturas "significa que estamos preparados para assumir nossa luta".
Nem todos centram sua campanha nos problemas específicos dos homossexuais. Apesar da recomendação do fórum para que houvesse apenas uma candidatura por cidade, em Manaus e no Rio (veja texto abaixo) há, respectivamente, dois e três candidatos.
Em Curitiba (PR), Toni Reis, 32, ex-presidente do Grupo Dignidade, candidato pelo PT, ganhou projeção nacional após o incidente com seu companheiro, o inglês David Harrad, 30, que precisou deixar o país, em maio, por ter expirado seu visto de turista.
Se eleito, Reis vai elaborar projetos de lei para punir o preconceito contra gays e lésbicas. Professor da rede pública, quer assegurar a implantação de um programa permanente de educação sexual e de saúde preventiva nas escolas.
Parteiro
O travesti Kátia Tapeti, 40, candidato à reeleição pelo PFL em Colônia (PI), está alheio à plataforma do fórum. No balanço do mandato do vereador, parteiro e enfermeiro José Nogueira (Kátia) Tapeti Sobrinho, constam a construção de um posto de saúde e de um chafariz, a eletrificação urbana e a instalação de uma antena parabólica.
Em Manaus (AM), o ex-presidente do Grupo Gay do Amazonas Adamor Guedes, 30, do PT, acha difícil convencer os homossexuais a votarem em candidatos gays.
Guedes disputa uma cadeira com Manuel Freire Moura, 30, do PDT, fundador do Sindicato de Gays, Lésbicas e Simpatizantes do Amazonas (Sigles). Se eleito, Moura pretende criar um banco de recursos humanos para apresentar currículos de homossexuais a empresas. "Vou ser eleito pelos que já foram discriminados", conclui.
Em Jaboatão dos Guararapes (PE), o vice-presidente da Associação Gay de Pernambuco, Rinaldo Tavares, 32, do PGT, quer implantar escolas comunitárias para meninos de rua e facilitar a expedição de documentos para a população de baixa renda.
Marco Aurélio de Oliveira, 29, defende as propostas do PSTU em Goiânia (GO). O partido condena a inclusão de estereótipos anti-homossexuais na mídia, desvincula a relação entre Aids e orientação sexual e pede mais verbas para a pesquisa e o tratamento da doença.
A deputada Marta Suplicy (PT-SP) apóia todas as candidaturas. "Eles têm experiência com a discriminação e sensibilidade para os problemas sociais."

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