São Paulo, quarta-feira, 17 de julho de 1996 |
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Alô, herdeiros! Vão trabalhar, vagabundos!
BARBARA GANCIA
A Justiça entendeu que o livro prejudica a honra da família. Na minha modestíssima opinião, o buraco é mais embaixo. Depois de colaborarem para a feição do livro com horas de conversa, os familiares de Garrincha tentaram, em vão, levar uma porcentagem nas vendas. E o resultado é esse perigoso precedente sobre a liberdade de informação. Agora, outro episódio vem macular o artigo 5º da Constituição, que assegura o livre direito de expressão. O fato chega ao meu conhecimento por intermédio de um leitor que vive plugado na Internet: a estudante Micheline Barroso se encontra, segundo ela mesma, "impossibilitada de expressar admiração pelo poeta Vinicius de Moraes". Eu explico: a fim de prestar uma homenagem ao ídolo "por amor" e para que usuários da Internet pudessem "redescobrir e dar o devido valor a Vinicius", ela resolveu colocar na rede, sem fins lucrativos, uma página com uma pequena biografia, letras de música, enfim, um simpático tour pela vida do homem que as feias perdoavam com o maior prazer. Pois não é que os herdeiros de Vinicius, que também preparam uma página sobre o parente ilustre (definida por eles como "oficial"), acharam por bem negar, por meio de advogados, permissão para que a garota faça sua homenagem? Se estivesse vivo, Vinicius aplaudiria o impecável CD-ROM "Viva Vinicius", uma coletânea de poesias, músicas etc., que sua família acaba de lançar. Mas o que diria ele sobre essa atitude gananciosa contra a estudante? Que eu saiba, a Lei dos Direitos Autorais serve para impedir que terceiros lucrem sobre a obra do autor. O que não se aplica a esse caso. A proibição fere, sobretudo, o espírito da Internet. A família de Vinicius talvez não saiba, mas, em lugares onde a discussão sobre o uso da Internet anda bem mais avançada do que aqui, esse babado de proibição inexiste. Dias atrás, o presidente Clinton assinou decreto banindo qualquer censura à rede nos EUA. Texto Anterior: Ponte aérea tolera fumo Próximo Texto: Campo minado; Kabongue!; Penetras Índice |
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