São Paulo, quarta-feira, 17 de julho de 1996 |
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Prada justifica inspiração no passado
LAUREN EZERSKY
* Pergunta - Suas criações parecem sempre se inspirar na história. Prada - Vivo com minhas memórias, meus estudos, meus sonhos. Todos nós nos sentimos atraídos por nossas memórias, por nosso passado. É a única coisa tangível à qual podemos nos ater. É por isso que acontecem tantos revivals. O ditado de que "tudo que é velho volta a ser novo" é mais relevante hoje do que nunca. Não há erro em se acariciar o passado. Pergunta - Todo mundo se inspira na história e no passado, mas a maioria das pessoas não admite o fato porque quer que as pessoas pensem que suas idéias são novas. Por exemplo, quando as calças boca-de-sino voltaram à moda, as pessoas acharam ruim porque elas voltaram exatamente iguais. Prada - Acho que agora é o momento exato para se olhar para trás. Todo mundo está fazendo isso, em todas as áreas, desde o cinema até a Broadway, passando pela arte e pela moda... Até a comida! Talvez este momento no tempo não seja muito novo, só isso. Como podemos ser revolucionários se o mundo à nossa volta não é? Pergunta - Você cuida da parte criativa, e seu marido, do lado comercial? Prada - Geralmente é assim. Para mim, o difícil é acertar o conceito e a idéia. Depois de conseguir isso, mando outra pessoa fazer o trabalho em meu lugar, porque sou preguiçosa. Meu marido vê se a coisa pode dar certo. Pergunta - Você acha que a Prada tem uma peça que é sua "assinatura"? As bolsas, as peças de couro, são seu artigo nº 1? Prada - Não gosto de dizer isso porque acho que cada peça tem sua importância própria. Não gosto de pensar que uma peça específica represente tudo. Não consigo pensar assim, nem sobre isso. Pergunta - A Prada dá importância ao controle de qualidade. Cada peça vem com um cartão numerado, de plástico azul. Por quê? Prada - Faço isso para nos proteger contra as imitações. Temos um problema enorme com isso. Pergunta - A Chanel tem o mesmo problema. Aconteceu até uma coisa constrangedora: a empresa se deixou enganar, recebeu peças falsificadas de volta e deu às pessoas que as devolveram um crédito nas lojas! Já vi imitações de Prada vendidas na rua, sem a mesma aparência do original. Prada - Às vezes essas cópias são horrorosas, mas outras são realmente incríveis. Eu já vi uma falsificação perfeita, incluindo o papel, a embalagem, a caixa, tudo! Até nossos cartõezinhos azuis! Pergunta - Por que você não coloca etiqueta de preço nas roupas? Prada - Boa pergunta. Não sei. Essa idéia é do meu marido. Francamente eu não gostei da idéia, por isso já mudamos. Afinal, as pessoas querem saber qual é o preço. Não querem ter que perguntar. Pergunta - Muitas pessoas andam reclamando dos preços. Dizem que as roupas de estilistas são caras demais. Prada - Depende. Às vezes acho que nossos preços são terríveis, altos demais. E às vezes acho que cobramos pouco. Mas no momento acho que nossos preços estão corretos. Sei que a qualidade de nossos materiais é de alta-costura. Geralmente eles custam três vezes o preço dos materiais normalmente usados. E também gastamos muito com publicidade. Mas, quando comparo nossa qualidade com a de outros estilistas, vejo que as criações deles são mais caras. Tradução de Clara Allain Texto Anterior: Os desfiles do dia Próximo Texto: Emir Kusturica expõe guerra ao ridículo Índice |
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