São Paulo, quinta-feira, 18 de julho de 1996
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Concentrações

CARLOS HEITOR CONY

Rio de Janeiro - Durante 21 anos o regime militar vendeu para dentro e para fora do país a imagem de um Brasil cor-de-rosa, onde apenas meia dúzia de descontentes, ressentidos e traidores da pátria insistiam em pregar soluções arcaicas. Foi a época do ame-o ou deixe-o, do ninguém segura este país, do milagre brasileiro.
Milagre que começou a produzir uma concentração de renda que nos envergonha. De 1964 a 1985, o referencial supremo era a ordem. Ordem e eficiência foram os dois alicerces sobre os quais foi construído o fascismo. E seu rebento tedesco: o nazismo.
Em nome da eficiência, invocando a política de resultados, o fascismo criou a necessidade do Executivo forte centrado numa personalidade forte. Para se obter tamanha força, a propaganda e depois a polícia reduziram a oposição à citada meia dúzia de descontentes, ressentidos e traidores da pátria. Estava criada a matéria-prima que iria justificar e encher os campos de concentração.
Apesar dos dados agora divulgados serem relativos a 1993, a estratégia do atual governo continua a mesma: eficiência "ber alles". Apelando para a publicidade, exercitando o marketing e com a ajuda dos interessados e bajuladores de sempre, o esquema de poder ainda não pensa em criar campos de concentração. São anacrônicos e custam alguma verba, além de repercutirem mal lá fora.
Campo de concentração e concentração de renda -é tudo concentração. O governo poupa o arame farpado, os banhos contra os piolhos, a sopa rala que não mata a fome. Fica mais barato obter eficiência impondo a "pax" neoliberal.
O relatório da ONU não está tão defasado assim. Em linhas gerais, ele revela o verdadeiro perfil de um país que FHC considera caipira. Em 1921, Mussolini disse que a Itália era "cafone". Em 1922 veio a marcha sobre Roma. Depois veio o resto.

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