São Paulo, sábado, 20 de julho de 1996
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A PEQUENA

MARCOS AUGUSTO GONÇALVES
ENVIADO ESPECIAL A ATLANTA

Se você acha que Edinanci Silva, em razão de seu histórico biológico, leva vantagem sobre as "moças" do judô que lutam hoje, a partir das 10h30, pela conquista de uma medalha olímpica, espere até ver a egípcia Heba Hefny.
Apesar da menor altura (1,70 m contra 1,77 m), ela pesa mais do que o dobro de Edinanci: 150 kg contra 74 kg. Ela poderá enfrentar a brasileira, dependendo dos resultados das diversas fases.
A judoca do Brasil está muito próximo do limite inferior de peso da categoria peso-pesado, que engloba mulheres com mais de 72 kg.
Também está longe de ser a mais alta: a russa Svetlana Gundarenko, por exemplo, mede 1,90 m e já foi lutadora de "ultimate fight", aquela pancadaria que no Brasil é conhecida como "vale-tudo".
"Edinanci tem a vantagem de ter muita força e ser mais ágil do que a maioria das peso-pesado", diz Geraldo Bernardes, técnico principal do judô brasileiro em Atlanta.
Japonesa
Edinanci estréia contra a judoca Noriko Anno (Japão), 20, quinta colocada no último campeonato mundial. A competição dura apenas um dia, num total de cinco lutas, com 5 minutos cada uma.
"A Noriko Anno não é uma atleta que se classifica sempre entre as melhores", diz Bernardes.
"Se a Edinanci for bem na estréia, o problema vai começar mesmo com a russa, que é a segunda adversária. Ela é lutadora, não é medrosa e não vai se abater psicologicamente".
Segundo o cenário traçado por Bernardes, se suplantar as duas primeiras lutas, a brasileira deverá enfrentar a húngara Eva Granicz.
Vencendo, terá que se deparar ou com a holandesa Angelique Seriese, atual campeã mundial, ou a chinesa Sun Fuming, campeã em 93. "As duas são muito boas e muito difíceis", diz Bernardes.
Mas Edinanci, apesar da inexperiência de seus 19 anos, vem demonstrando condições de obter um bom resultado. Ela já venceu a japonesa que enfrenta hoje na estréia e já bateu Sun Fuming.
Ansiedade
Ontem, Edinanci parecia mais concentrada do que nunca. De lenço na cabeça e cara sizuda, almoçou por volta de 12h, depois de um cochilo.
Habitualmente de poucas palavras, respondeu as perguntas com gestos -ou polegar para cima (afirmativo) ou polegar para baixo (negativo).
Edinanci deixou ontem o alojamento da Academia para Cegos da Geórgia, em Macon, a 100 km de Atlanta, onde está a delegação. Foi dormir na Vila Olímpica. Ela estava decidida, como a maioria da equipe, a não participar do desfile de abertura dos Jogos.
"A hora é de concentração", diz o técnico Bernardes. "O importante nas vésperas das competições é descansar e acumular energia", explica o meio-pesado Aurélio Miguel, ouro na Olimpíada de Seul (88), amigo e orientador informal de Edinanci.
Hoje pela manhã, antes da luta, Edinanci vai passar pela pesagem obrigatória. A seguir, pisará no dojô (o "ringue" do judô) para começar sua tentativa de ser a primeira brasileira a ganhar uma medalha em Olimpíada.
Polegar para cima.

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