São Paulo, sábado, 20 de julho de 1996
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Uma nova estréia

AURÉLIO FERNANDEZ MIGUEL
ESPECIAL PARA A FOLHA

A primeira Olimpíada a gente nunca esquece. Principalmente a minha, em Seul (88), já que saí de lá com a medalha de ouro.
Na segunda e na terceira, como agora em Atlanta, porém, não diminui a adrenalina. Ela cresce à medida que se aproxima o dia da competição. A experiência, no caso, não minimiza a emoção.
Com Seul e Barcelona na memória, vou lutar como se fosse minha estréia olímpica.
Só lamento não poder desfilar na abertura da festa.
Vou sentir falta daquele arrepio que percorre a espinha quando se pisa na pista de um estádio olímpico.
Em Barcelona, tive um momento bastante significativo. Carreguei, com imenso orgulho, a bandeira do Brasil.
Em Atlanta será a vez de Joaquim Cruz, que já ganhou medalhas de ouro e prata. Um grande atleta, ele é muito respeitado nos Estados Unidos. Merecia o destaque.
O calor por aqui não é fácil. Por isso, os judocas que competirão nos dois primeiros dias não participarão do desfile para evitar o desgaste.
A festa de abertura é tão emocionante quanto desgastante. Os atletas ficam muito tempo em pé e sob o forte sol.
Vou ficar em Macon, curtindo pela TV. Mas preparando o espírito para lutar amanhã.
Aqui encontramos os meios ideais para nossa preparação. Não faltou nada. Nem a simpatia do povo local.
Eu e meus companheiros estamos alojados em uma escola especial para cegos. Poucas escolas no Brasil podem exibir as instalações aqui vistas.
Mas o assunto hoje é judô. E judô olímpico. Não estou morrendo de curiosidade para pôr os pés na Vila Olímpica.
A Confederação Brasileira de Judô acertou ao nos deixar aqui em Macon. Lá, naquela Babilônia que se instala, o atleta não tem tranquilidade.
O judô exige concentração total. Um erro, uma distração, pode custar uma medalha. A Vila fica para depois. Espero ir visitá-la, com uma medalha no peito, de preferência a de ouro. Mas, repito, no judô não dá para prometer medalha.
Se conseguir o bicampeonato olímpico ou uma medalha de prata ou bronze, sensacional. Mas, se isso não acontecer, por falta de determinação e garra é que não terá sido. Essa é a promessa que faço.
O judô brasileiro veio para os EUA com plenas possibilidades de conseguir sucesso.
Só faltam as medalhas para coroar com pleno êxito o trabalho. Mas espero que, passada esta Olimpíada, não fiquemos esquecidos até as vésperas dos Jogos de Sydney, no ano 2000.

Aurélio Miguel, 32, foi ouro em Seul-88 no judô (categoria meio-pesado); as lutas de sua categoria acontecem amanhã

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