São Paulo, sábado, 20 de julho de 1996
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'Trainspotting' chega ao Brasil

AMIR LABAKI
DA EQUIPE DE ARTICULISTAS

Chega ao Brasil na próxima semana o furacão "Trainspotting".
Com o subtítulo "Sem Limites", o mais cultuado filme europeu do ano abre segunda-feira o 12º Rio Cine Festival e tem, na quarta, dia 24, pré-estréia especial em São Paulo promovida pela Folha (leia texto abaixo).
O filme deve entrar em cartaz em 16 de agosto. Ainda não foi desta vez que o diretor Danny Boyle conseguiu realizar seu sonho de vir ao Brasil.
Representando-o estará um dos astros do filme, Ewen Bremner, intérprete de Spud, o mais agressivo dos "junkies" de Edimburgo.
Entusiasmado com a repercussão em Cannes, fora de concurso, de seu instantâneo do niilismo da juventude britânica atual, Danny Boyle concedeu à Folha uma entrevista exclusiva.
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Folha - Depois da revelação com "Cova Rasa", você poderia fazer qualquer coisa. Por que escolheu adaptar "Trainspotting"?
Danny Boyle - Por várias razões. Nós, eu, meu produtor Andrew MacDonald e o roteirista John Hodge, queríamos trabalhar juntos novamente. Poderíamos ter ido fazer um thriller para Sharon Stone ou Gene Hackman.
Você tem que escolher. Pode se deixar absorver pelo grande negócio cinematográfico internacional e tornar-se parte de uma máquina. Andrew nos deu o livro de Irving Welsh. Foi uma experiência extraordinária.
Folha - Por quê?
Boyle - O livro pega aquela cena que parece tão deprimente e extrai dela toda a diversidade. Mostra a complexidade da vida, em vez de reforçar preconceitos.
E, claro, tudo se passa na mesma cidade de "Cova Rasa", mostrando o outro lado daquela Edimburgo grande, bela, georgiana, perfeita, com uma economia estável de burgueses e da classe média.
Folha - Como você explica o filme ter se tornado um dos maiores sucessos de bilheteria da história do cinema britânico?
Boyle - O filme celebra algo da vida britânica sobre o qual ainda não nos tínhamos detido. Não o faz de um modo politicamente consciente. Thatcher desmantelou o estado de bem-estar social.
Quem votou nela -não nós, claro- dizia: "Nós não queremos mais viver numa comunidade. Queremos viver individualmente". Ao mesmo tempo, o comunismo ruía na Europa.
A alternativa ia embora. Ninguém examinou muito nisso. "Trainspotting" tenta fazê-lo, e não da forma tradicional, que trata as pessoas como vítimas de más políticas de habitação, más famílias, da falta de empregos etc.
Folha - Você foi mesmo convidado a trabalhar com Sharon Stone?
Boyle - Sim, é sério. Peguei o telefone e alguém disse: "Aqui é Sharon Stone". Pensei que fosse trote. Ela me ligou muitas vezes e é muito inteligente. Viu "Cova Rasa" várias vezes e gostou muito.
Ela me mandou uma sinopse de um "thriller" sobre uma americana nas Filipinas. Gostaria de ver o filme, mas não de fazê-lo. Então mandamos para ela um projeto.
Pensamos num "thriller" com ela sendo uma dessas jovens embaixadores de Clinton na Europa. Ainda o estamos desenvolvendo. Nunca se sabe no que vai dar.
Folha - O que vem a seguir?
Boyle - Em setembro começo a rodar um comédia romântica sobre um inglês nos EUA, tipo garoto encontra garota. Em geral os americanos vão filmar na Grã-Bretanha. Dessa vez vamos inverter.
O protagonista será o mesmo Ewan McGregor e ainda estamos procurando uma bela atriz americana (Cameron Diaz, de "O Máscara", acaba de assinar contrato - AL). O título será "A Life Less Ordinary" (Uma Vida Menos Comum) -que é o que todo mundo procura, acho (risos).

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