São Paulo, sábado, 20 de julho de 1996
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Diplomacia e consumidor

CLÓVIS ROSSI

Lisboa - É carregada a agenda da diplomacia brasileira para este segundo semestre, período em que o país é o presidente de turno do Mercosul, o conglomerado com Argentina, Paraguai e Uruguai.
O Itamaraty quer fazer do Mercosul uma espécie de imã para a criação de um espaço de livre comércio mais amplo, que abranja toda a América do Sul.
Projeto lançado ainda na administração Itamar Franco, mas mais ou menos atropelado por uma iniciativa mais ampla, a Alca (Área de Livre Comércio das Américas).
O governo Clinton propôs a Alca para cobrir todos os 34 países americanos, excluída Cuba (o que, aliás, é um tremendo absurdo).
A diplomacia brasileira desconfia seriamente não da Alca, em si, mas da maneira como os norte-americanos pretendem construi-la, quase como uma anexação dos países latino-americanos e do Caribe.
Por isso, contrapõe a ALCSA (Área de Livre Comércio Sul-Americana), que avança mais suavemente do que a Alca. O Chile já se associou ao Mercosul, a Bolívia negocia e a Venezuela é a primeira da fila para ser a próxima.
Se a coisa continuar caminhando bem, o grande bloco americano será negociado entre os Estados Unidos e, a rigor, o Brasil, candidato natural a líder sul-americano. É um jogo menos desequilibrado.
Ou, como constata o colunista Reginald Dale, do jornal "The International Herald Tribune", uma co-propriedade de "The New York Times" e "The Washington Post":
"O Brasil prefere um ritmo lento rumo ao livre comércio hemisférico de forma a que possa construir a ALCSA, em torno do Mercosul, como contrapeso negociador".
Hoje, é assim que se fazem os jogos de poder no xadrez mundial. No processo e, principalmente, na chegada, bate direto no consumidor, embora a este o jogo pareça distante, só para especialistas.

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