São Paulo, domingo, 21 de julho de 1996
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Tesouro registra déficit de R$ 2 bilhões

JOSIAS DE SOUZA
SECRETÁRIO DE REDAÇÃO

O Tesouro Nacional registrou em junho um déficit de caixa de cerca de R$ 2 bilhões. A má notícia será divulgada pelo governo nos próximos dias.
Já se esperava em Brasília um déficit para junho. Mas não se imaginava que o buraco seria tão grande. Contava-se com algo em torno de R$ 1,2 bilhão.
A Folha apurou que o Ministério da Fazenda apresentará três justificativas:
1) o governo teve de pagar mais de US$ 700 milhões em juros da dívida externa, principalmente ao Clube de Paris, um organismo que reúne os governos estrangeiros que emprestaram dinheiro ao Brasil;
2) concedeu-se ao funcionalismo público uma antecipação de metade do 13º salário de 1996. A iniciativa sorveu dos cofres da Fazenda montante superior a R$ 800 milhões;
3) entrou menos dinheiro no caixa do governo no mês passado. Arrecadaram-se R$ 7,2 bilhões, valor 4,66% inferior ao que havia sido obtido em maio.
Sazonalidade
A confluência de despesas no mês de junho é chamada pelo governo de "efeito sazonal".
Uma expressão que, em economês, significa que se está diante de um fenômeno atípico, que não se pode generalizar.
Livre das "sazonalidades", o Ministério da Fazenda promete para o fechamento das contas de julho um recuo nas despesas.
A previsão da equipe econômica é que, a despeito dos percalços, o déficit global de 96 será inferior a 3% do PIB (soma de todas as riquezas do país). No ano passado, o déficit foi de 5,05% do PIB.
"Patinho feio"
As despesas públicas têm sido, até aqui, uma espécie de "patinho feio" do Plano Real. O desequilíbrio do Tesouro, que vem gastando mais do que o arrecadado em impostos, afeta diretamente a saúde da economia.
Um dos efeitos mais perversos do desequilíbrio fiscal é a influência que exerce sobre os juros.
Às voltas com cofres minguados, o governo é forçado a buscar dinheiro no mercado. E o faz vendendo títulos públicos.
Para atrair compradores, é obrigado a oferecer como remuneração altas taxas de juros.
O Tesouro costuma calcular os seus resultados segundo três critérios. Há o resultado de caixa, que leva em conta tudo o que foi efetivamente recebido e pago em um determinado mês.
Existe o resultado operacional, que exclui despesas com a correção monetária das dívidas interna e externa. Há, por último, o resultado primário, que exclui, além da correção monetária, os juros da dívida.
Chegou-se ao buraco de R$ 2 bilhões pelo critério de caixa. A Folha apurou também que, pelo critério operacional, o déficit foi superior a R$ 1 bilhão.
Ao descontrole do Tesouro soma-se o desequilíbrio de Estados, municípios e empresas estatais.
Anteontem, o Banco Central informou que, incluindo todo o setor público, o déficit evoluiu de R$ 14,108 bilhões em abril para R$ 17,436 bilhões em maio. Um salto de 23,58% em escassos 30 dias. Os dados de junho ainda não são conhecidos.

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