São Paulo, domingo, 21 de julho de 1996
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Uma suspeita de plágio

AUGUSTO MASSI
ESPECIAL PARA A FOLHA

Artigo publicado no "Corriere della Sera" em junho sugere que Ungaretti plagiou Joyce. Trata-se dos poemas "È Ora Famelica", "Dono" e "La Conchiglia", que pertencem a "Dialogo", obra de 1968 composta por nove textos de Ungaretti e cinco réplicas de Bruna Bianco. O primeiro seria um plágio de "Memory of the Players In a Mirror At Midnight", pertencente ao livro "Pomes Penyeach" (1927). O segundo seria plágio da lírica 34 e o terceiro da lírica 26, ambas incluídas no livro "Chamber Music" (1907).
A correspondência ainda inédita entre Bruna Bianco e Ungaretti pode ajudar a elucidar a questão. Por intermédio dela, a Folha descobriu que Ungaretti -não se sabe se, traduzindo diretamente do inglês, que conhecia perfeitamente, ou se de posse da edição italiana "Poesie", de James Joyce (tradução de Alfredo Giuliani, Mondadori, 1961)-, ao longo de três cartas refaz e aprimora a tradução de alguns textos, até chegar ao que julgava ser uma "imitazione" de Joyce.
A acusação de plágio baseia-se no fato de a edição original de "Dialogo", 120 exemplares fora do comércio, não mencionar fontes. Desta forma, Ungaretti estaria assumindo a autoria dos poemas.
Com um pouco de discernimento, não seria possível enxergar um "diálogo" entre a lírica cortesã de Joyce e a corte amorosa de Ungaretti à jovem poeta Bruna Bianco? Joyce e Ungaretti não estariam irmanados pelos ecos dos sonetos shakesperianos (tão bem traduzindo pelo poeta italiano)?
(AM)

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