São Paulo, domingo, 21 de julho de 1996 |
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FEITIÇO E FEITICEIRO O economista Rudiger Dornbusch tornou-se notável, nos últimos meses, como uma espécie de arauto da catástrofe. O artigo que esta Folha publica hoje, entretanto, mostra que o polêmico economista não é um torcedor do "quanto pior, melhor". Como todo economista, ele começa o argumento fazendo uma caricatura do mundo capitalista, mas como todas as caricaturas, bastante reveladora: o debate sobre o futuro da economia mundial divide-se hoje entre os que acreditam numa nova onda de prosperidade e os que condenam o capitalismo pelo sucesso econômico que aumenta a desigualdade social. Dornbusch concentra sua atenção sobre as razões da prosperidade. Não são poucas e não são desprezíveis. O fim das economias estatizadas, o vigor dos mercados emergentes e o impulso das novas tecnologias estão entre os fatores de dinamismo que poderão levar a um desenvolvimento mundial sem precedentes, ainda que sem necessariamente trazer maior equidade. O cenário de longo prazo que emerge dessa visão é de um otimismo que beira o exagero. Mas Dornbusch raciocina, por vezes, com algum exagero a fim de promover o debate e evitar qualquer acomodação. Para economias como o Brasil, ele tem um recado nas entrelinhas. Entre os riscos desse otimismo está a disputa por capitais num mundo de oportunidades extraordinárias de investimento. É o que se poderia denominar como paradoxo da abundância de oportunidades, que coloca o perigo de uma escassez de capitais. O alerta do economista do MIT é especialmente oportuno agora que se teme pelo futuro da Bolsa de Nova York. Muitos imaginam uma repetição da crise de 87. Dornbusch relembra exatamente o que ocorreu naquele ano para dizer que os catastrofistas erraram e, entre os investidores, os que seguiram os conselhos dos catastrofistas perderam dinheiro. É um alerta oportuno. Especialmente se se puder aplicá-lo às próprias análises de Dornbusch, catastrofistas, sobre o futuro da economia brasileira. Texto Anterior: REELEIÇÃO SEM RECEITA Próximo Texto: O INCRÍVEL ACONTECE Índice |
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