São Paulo, quarta-feira, 24 de julho de 1996
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Minhoca e ecologia

ÂNGELO ARTUR MARTINEZ

A sociedade moderna, com sua alta densidade populacional, sofisticadas indústrias e métodos intensivos de agricultura, produz quantidades crescentes de resíduos.
Os métodos existentes de tratamento e deposição desses resíduos tendem a se tornar caros.
Isto explica o crescente interesse pelo desenvolvimento de processos com a utilização de sistemas biológicos.
Um desses sistemas envolve a utilização da minhoca para a estabilização de uma grande variedade de resíduos orgânicos, processo chamado de vermicompostagem.
Esse tem sido o objetivo de pesquisas em muitos países.
A vermicompostagem ou vermiestabilização é uma tecnologia que não necessita de energia, capital ou grandes equipamentos.
É uma tecnologia relativamente nova, que pode ser classificada como alternativa.
Parece irônico observar que a dramática necessidade de suplementar o teor de matéria orgânica em muitos tipos de solos aconteça neste século, em que muitos países têm problemas para descartar enormes quantidades de resíduos orgânicos.
É justamente agora que estamos redescobrindo o grande potencial das minhocas em processar os resíduos orgânicos.
As minhocas podem converter entre 20% e 40% da sua energia em proteínas de alta qualidade (comparáveis com as da farinha de peixe) e ricas em aminoácidos essenciais.
A comunidade científica internacional, ciente da importância da minhoca, vem investindo seriamente na vermicompostagem.
O lixo domiciliar, resultante dos resíduos sólidos das residências, normalmente são encaminhados para aterros sanitários, sem nenhum tratamento prévio.
Isto acarreta sérios problemas de poluição, além de se constituir num foco de proliferação de ratos, moscas e outros agentes transmissores de doenças.
Poucas prefeituras estão aparelhadas para o tratamento do lixo domiciliar, de forma que a quantidade de material disponível para uso como adubo orgânico é ainda pequena.
O lodo de esgoto é o produto obtido nas estações de tratamento dos resíduos líquidos urbanos, provenientes de áreas domiciliares e industriais.
O fertilizante orgânico resultante desse lodo, proveniente de zonas muito industrializadas, pode apresentar contaminação de metais pesados.
A ecotoxologia é o estudo dos efeitos ecológicos causados por substâncias tóxicas ou poluentes.
Os métodos convencionais de análise química dos contaminadores são caros e nem sempre fornecem a indicação dos materiais presentes no meio-ambiente.
Métodos alternativos de avaliação, usando a minhoca da espécie Eisenia foetida, têm sido propostos.
Os resultados indicam que as minhocas podem ser utilizadas com sucesso na avaliação do impacto causado ao meio-ambiente pelos metais pesados, pesticidas, resíduos radioativos e outros produtos tóxicos.

Ângelo A. Martinez é engenheiro agrônomo.

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