São Paulo, quarta-feira, 24 de julho de 1996
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QUEM SEMEIA VENTO...

A quebra da atual safra de grãos confirma a procedência de determinadas críticas feitas no ano passado à política agrícola do governo. De outro ponto de vista, mostra os efeitos perversos que certas decisões econômicas tiveram sobre o setor.
Em 95, a grande oferta de alimentos, como arroz e feijão, e de grãos que servem também de insumo à produção de itens alimentares de grande relevância, como o milho, serviu para garantir o abastecimento e evitar a alta dos preços.
A valorização cambial e a ameaça das importações a baixo custo contribuíram adicionalmente para o controle da inflação. E, temendo que um crescimento econômico considerado excessivo abalasse a estabilização da moeda, o governo ainda manteve taxas de juros elevadíssimas. Tudo isso ajudou a frear a alta dos índices de preços, mas compôs um ambiente muito desfavorável, quase punitivo mesmo, para a atividade produtiva, especialmente a agricultura dependente de crédito.
O resultado foi a queda de 4% na área plantada e uma perda de produtividade por hectare de 2,6%, segundo estimativas do ministério. Este último dado pode indicar tanto uma descapitalização do setor, que teria cortado gastos com implementos e fertilizantes, como uma redução mais acentuada do plantio por parte da agricultura mais moderna. Ambas hipóteses são sinais negativos.
Nas grandes nações industriais, a produção do campo continua a ser questão delicada. Enquanto se proclama as virtudes do livre mercado e da não-intervenção, o fato é que em todo o globo os países avançados protegem e sustentam sua agricultura com políticas específicas.
Não é possível ao Brasil ser o único a seguir a máxima do "faça o que eu digo, não o que eu faço". Se não quiser defrontar-se com novas surpresas desagradáveis, o país precisa examinar mais atentamente as consequências de suas políticas. E tratar a agricultura com a atenção que em todo o mundo o setor recebe.

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