São Paulo, quarta-feira, 24 de julho de 1996
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O barbeiro de Sevilha

CARLOS HEITOR CONY

Rio de Janeiro - De alguma forma o calendário está ajudando o governo e, embora não beneficie diretamente o Brasil, pelo menos não está atrapalhando. Tivemos o caso de Maceió, que desviou as atenções da nobreza, clero e povo para PC Farias, sua namorada e seus motivos.
Gastou-se um mês com o emocionante evento e logo engatamos a Olimpíada que vai até agosto. Depois emplacaremos a campanha eleitoral dos municípios, que lembrará aos eleitores que eles não moram num país ou num Estado, mas numa cidade.
Nesse particular, a campanha em São Paulo (município) parece que é a única que terá repercussões federais e é possível que sobre pancada para quem merece -e merece muito.
A oportunidade seria excelente para o governo federal aproveitar o refresco. Até aqui, FHC só pensou em reformas -como se fosse um alfaiate- e em imagem, como se fosse um aparelho de TV.
Nos países desenvolvidos, a sociedade pouco se preocupa com o governo. Uma não procura atrapalhar o outro, que cada um fique na sua -e aí o país progride.
No Brasil -como no mundo subdesenvolvido- o governo é o deus, dele dependem a chuva, o sol e as outras estrelas. E o governo é o primeiro a assumir essa condição de barbeiro de Sevilha, o "factotum della città".
Os profissionais da mídia já reconhecem que é um equívoco -e uma tolice- essa cobertura compacta e interminável dos fatos de Brasília. Bem verdade que a vigilância da opinião pública impede muita coisa ruim, e quando não impede, pelo menos constrange o poder.
Até novembro, com a proclamação dos resultados das eleições de outubro, o governo terá ótima chance para mostrar ao que veio. Mesmo porque, depois de novembro, com o mandato presidencial entrando na sua segunda metade, só haverá um assunto, um tema, um dedo da mão presidencial: a reeleição.

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