São Paulo, sábado, 27 de julho de 1996
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Scola mostra pessimismo em 'História'

ELAINE GUERINI

ENVIADA ESPECIAL A PORTO ALEGRE

Diretor diz, em entrevista exclusiva à Folha, que passa a seus filmes sua insatisfação com a política de seu país

Aos 64 anos, o cineasta italiano Ettore Scola não disfarça o pessimismo.
O protagonista de seu novo filme, "História de um Jovem Homem Pobre", prefere viver atrás das grades do que continuar à procura de emprego.
"Não dá para ser otimista quando 5 milhões de jovens italianos não encontram trabalho", disse o diretor em entrevista exclusiva à Folha.
Scola chegou ontem a Porto Alegre (RS), a convite da prefeitura da cidade, para participar hoje de um debate no Fórum Nacional de Cinema - Cinema do Fim ao Começo.
A Paris Filmes aproveita a vinda do cineasta para lançar seu novo trabalho -com pré-estréia hoje nos cines Liberty, Morumbi e Eldorado, em São Paulo. O filme entra em cartaz na próxima sexta.
Leia a seguir os principais trechos da entrevista.
*
Folha - Você se inspirou em "Roman d'un Jeune Pauvre", de Feuiller, para filmar "História de um Jovem Homem Pobre"?
Scola - Na verdade, não. Usei apenas o título para chamar a atenção. O romance de Feuiller, escrito no século passado, gira em torno de um jovem que perde os bens e só depois de reconquistá-los consegue se casar com a mulher que ama.
Na minha história, o homem pobre do título enfrenta um problema moderno, o desemprego, e não tem a mesma sorte.
Folha - No filme, sua visão é pessimista. É assim que se sente com relação aos jovens?
Scola - Só consigo ser otimista sendo pessimista. Acho que a situação só melhora depois que você faz uma representação dura da realidade. E a realidade dos jovens na Itália não podia ser pior.
No momento, esse é o problema mais grave no país e as coisas tendem a piorar. A cada ano, novos profissionais se formam e o mercado não tem como absorvê-los. Não é exagero mostrar um professor que só consegue lecionar na prisão, sendo ele um dos presos.
Não é à toa que o jovem do filme (vivido pelo ator Rolando Ravello) é mais pessimista que o personagem mais velho (Alberto Sordi). O velho, mesmo levando uma vida solitária, ainda se mostra confiante. Chega a se sentir uma pessoa atraente e até sedutora.
Procurei contrastar as duas formas de solidão, a da velhice e a da juventude. Essa última é ainda mais grave.
Folha - Mais uma vez você começa a contar uma história e deixa o final em aberto...
Scola - Como em todos os meus filmes, não costumo colocar um ponto final na história. Não acho que um filme deva ser finalizado.
É o público que deve tirar suas próprias conclusões. Faço um cinema de perguntas e não de respostas. Esse é meu estilo.

A jornalista Elaine Guerini viajou a convite da Paris Filmes

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