São Paulo, quarta-feira, 31 de julho de 1996
Texto Anterior | Índice

Militares querem evitar Justiça comum

GABRIELA WOLTHERS
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

O caso Lamarca não é o único foco de pressão que o presidente Fernando Henrique Cardoso está enfrentando dos militares.
As Forças Armadas são contra o projeto que transfere da Justiça Militar para a comum o poder de julgar militares acusados de cometer crimes dolosos -intencionais- contra a vida de civis.
A insatisfação dos militares trouxe como primeira consequência o adiamento da sanção do projeto.
Na avaliação das assessorias dos ministérios militares, o texto aprovado dificulta a participação das Forças Armadas em operações de combate à violência, como foi o caso da Operação Rio, em 1995.
O projeto previa passar para a Justiça comum o julgamento de policiais militares -compromisso de FHC em sua campanha presidencial. O texto do Congresso atingiu também Exército, Marinha e Aeronáutica.
Isso porque o projeto modifica artigos do Código Penal Militar e do Código de Processo Penal Militar que tratam de crimes praticados por militares como um todo e não especificamente por PMs.
O projeto foi aprovado em 16 de julho pela Câmara e enviado para sanção do presidente no dia seguinte. Passados 14 dias, FHC não se manifestou sobre o assunto. O prazo para sancionar ou vetar o texto se esgota no dia 7 de agosto.
Para os militares, a melhor alternativa seria vetar o projeto e aprovar no Congresso um substituto. Eles citam como exemplo a proposta do deputado Hélio Bicudo (PT-SP), que afirma simplesmente que os PMs não são considerados militares para efeitos penais.
Pelo texto de Bicudo, a Justiça comum julgaria todos os crimes praticados por PMs (espancamentos, lesões corporais, prisões ilegais, extorsões, estupros) e não só homicídios dolosos, como estabelece o projeto já aprovado.
Segundo a Folha apurou, FHC pretende sancionar o projeto, pois avalia que um veto ocasionaria um desgaste junto à opinião pública, principalmente no exterior.
Mas o presidente decidiu não sancioná-lo já para ter tempo de conversar com os militares e tentar convencê-los de que não há outra alternativa a curto prazo.
Os próprios militares concordam que FHC tem mais a ganhar junto à opinião pública, dentro e fora do país, com a sanção do que com o veto -politicamente, é uma resposta às críticas das organizações de direitos humanos.
Internamente, avaliam as assessorias das Forças Armadas, a lei, tal como está, cria tantas "incertezas jurídicas" que o uso do Exército ou qualquer outra Força como polícia administrativa da União pode se restringir cada vez mais.

Texto Anterior: Incra inicia programa em área do BB
Índice


Clique aqui para deixar comentários e sugestões para o ombudsman.


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.