São Paulo, quarta-feira, 31 de julho de 1996
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Vietnã: um tigre vermelho?

ALDO REBELO

O 8º Congresso do Partido Comunista do Vietnã, a que tive a honra de assistir como representante do Partido Comunista do Brasil, encerrou seus trabalhos no início de julho, em Hanói, comemorando uma grande conquista: o partido dirige a segunda economia que mais cresce na Ásia -9,5% em 1995-, logo depois da China, por sinal outro país que persiste no caminho socialista.
Os vietnamitas empenham-se, hoje, em reconstruir sua pátria devastada por três guerras sucessivas de agressão, movidas pelo Japão, pela França e pelos Estados Unidos. A resistência heróica e prolongada do povo vietnamita terminou com a derrota americana em 1975 e a reunificação nacional em 1976.
O país enfrentou uma grave crise econômica e social no final dos anos 70 e no começo dos 80, em parte por causa das dificuldades herdadas do período das guerras e em parte pela aplicação mecânica de modelos de construção do socialismo, conforme reconheceu o Partido Comunista em 1986, no 6º Congresso, iniciando um movimento de retificação, aprofundado após a derrota do socialismo no Leste Europeu e na União Soviética.
O modelo de forte centralização burocrática foi substituído por uma orientação mais flexível, que, preservando a direção do Partido Comunista, a hegemonia do setor socialista da economia e os planos quinquenais, adotou mecanismos de mercado e promoveu uma abertura controlada a investimentos privados, principalmente estrangeiros.
Apesar do bloqueio norte-americano, mantido até recentemente, o Vietnã estabeleceu relações diplomáticas com aproximadamente 160 países e relações comerciais com cerca de 100 países, recebendo de pelo menos 50 deles algum tipo de investimento.
O acelerado ritmo de crescimento entre 1991 e 1995 -taxas médias anuais de 8,2% na produção global, de 13,5% na indústria, de 17% nas exportações e de 27% na produção de alimentos- tornou o país capaz de garantir o abastecimento alimentar de sua população de 70 milhões de habitantes e ainda exportar excedentes de arroz, inclusive para o Brasil.
Os avanços sociais também foram significativos, a ponto de o Unicef, organismo das Nações Unidas voltado para a infância, colocar o Vietnã em segundo lugar numa lista de países que adotaram programas eficientes de proteção a suas crianças. A parcela de famílias abaixo da linha de pobreza caiu de 55%, em 1989, para 20%, em 1993.
Os dirigentes vietnamitas reafirmam sua fidelidade ao marxismo-leninismo e aos ensinamentos do fundador do partido e primeiro presidente da República, Ho Chi Minh, o construtor da unidade nacional e dos sólidos laços internacionalistas com os povos da região e de todo o mundo.
No Congresso de Hanói, pude ouvir, além dos pronunciamentos dos partidos comunistas de vários países, o comovente discurso da representante do Partido Social-Democrata da Suécia, que evocou o assassinato do ex-primeiro-ministro sueco Olaf Palme e sua posição de crítica à agressão norte-americana.
Os meios diplomáticos de Hanói prevêem que o Vietnã emergirá nos próximos dez anos como uma nova potência econômica na Ásia. A julgar pelas convicções manifestadas por dirigentes e militantes na tribuna do Congresso e pela conhecida disposição de luta e trabalho da nação indochinesa, essas previsões se realizarão para a merecida alegria de um dos povos mais resolutos e mais sacrificados da história contemporânea.

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