São Paulo, sábado, 3 de agosto de 1996
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Julgar Priebke será difícil, diz Alemanha

DAS AGÊNCIAS INTERNACIONAIS

A Alemanha disse ontem que as suas chances de conseguir levar o ex-capitão nazista Erich Priebke, 83, a julgamento são pequenas.
"O caso não é fácil", disse o promotor alemão Klaus Schacht, o responsável pelo processo no país.
Um pedido de extradição da Alemanha levou a Itália a prender novamente o alemão anteontem após uma corte militar ter julgado que ele não poderia ser punido pela participação no massacre de 335 pessoas nas Fossas Ardeatinas, próximo a Roma, em 1944.
O Ministério da Justiça da Alemanha disse que não sabia se a Itália poderia extraditar o ex-nazista enquanto ainda estiver pendente uma apelação do promotor italiano em relação ao veredicto.
Mesmo que a Alemanha consiga a sua extradição, uma lei da União Européia proíbe que uma pessoa seja julgada pelo mesmo crime em dois países-membros diferentes.
A Itália também precisa receber permissão da Argentina para extraditar Priebke. O ex-nazista foi entregue pelas autoridades argentinas no final do ano passado.
Priebke quer voltar à Argentina, mas o país bloqueou a sua entrada. Pedro Bianchi, advogado do ex-nazista na Argentina, disse que vai apelar da proibição.
Funcionários da chancelaria argentina indicaram também que não existe um tratado de extradição do país com os alemães.
Na Alemanha, crimes comuns não prescrevem (Priebke não foi punido porque seu crime prescreveu na Itália), e os alemães podem ser julgados independentemente de o crime ter ocorrido no país.
O pedido de extradição da Alemanha, que ainda deveria ser formalizado ontem, seria provavelmente baseado em um mandado de prisão de junho de 1995. A Itália tem 40 dias para decidir.
O advogado de Priebke na Itália, Venio di Rezze, disse que vai esperar para ver as acusações no pedido de extradição alemão, mas deve apelar para que Priebke seja solto.
Segundo Di Rezze, Priebke está "muito deprimido". "Parece que estão me acompanhando à morte. Não vejo saída", teria dito Priebke a seu advogado na prisão Regina Coeli, a mesma em que as vítimas do massacre das Fossas Ardeatinas passaram as suas últimas horas.
Priebke se negou a comer e disse "estranhar" a reação dos italianos ao veredicto, disse o advogado.
Ontem, o presidente da Itália, Oscar Luigi Scalfaro, disse que "quando uma decisão não respeita o ser humano e a história, não pertence ao direito". O Vaticano afirmou que "a sentença reabre uma ferida nunca curada".
A ONU divulgou ontem um relatório dizendo que obedecer a ordens não é um atenuante no caso de violações de direitos humanos.
Vários jornais culparam o sistema judicial italiano pelo veredicto. "A hipocrisia venceu", dizia um editorial do "Il Messaggero".
Roma estava tranquila ontem depois de uma noite de tumultos no tribunal entre parentes das vítimas e policiais. Alguns carros na região da corte sofreram danos.

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